O Brasil evitou os temidos apagões através de um rígido plano de racionamento de energia, mas especialistas dizem que o plano deverá continuar em 2002, ano de eleições, ultrapassando seu prazo de fim de novembro. "O racionamento funcionou, mas a crise ainda não terminou", disse Maurício Tolmasquim, coordenador do programa de energia brasileiro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Eles (governo) têm que manter a população mobilizada, uma vez que seria difícil demais convencer as pessoas em outra onda de racionamento, mais tarde", acrescentou. Tolmasquim não excluiu um abrandamento do plano, se houver excedentes entre novembro e março.
Em uma medida de emergência, o país adotou desde junho passado um plano para reduzir em 20 % o consumo de energia. A crise se deu devido à seca e à má administração do sistema de hidrelétricas, que respondem por 90% do consumo nacional. Os reservatórios da região Sudeste e Centro-Oeste estão agora com apenas 21% da capacidade, e o racionamento prejudicou o crescimento econômico do país neste ano.
A oposição culpa o presidente Fernando Henrique Cardoso por não ter previsto a crise, usando o racionamento como arma contra o governo, que ainda não definiu seu candidato na disputa pela Presidência em outubro de 2002. Analistas dizem que o governo pouco fez para aumentar a geração de energia por meio de térmicas movidas a gás natural. Também evitou os impopulares aumentos de tarifas, o que acabou desestimulando os investimentos da iniciativa privada no setor.
"As usinas termelétricas não têm regras para funcionar, não há incentivos para que elas aumentem sua capacidade", disse Oswaldo Telles, analista da BBV Securities. O governo está levando adiante seu plano de construir dezenas de usinas termelétricas usando a Petrobras e a Eletrobrás, mas não deu mais do que promessas aos investidores do setor privado.
A iniciativa privada aguarda que o Mercado Atacadista de Energia (MAE) entre em operação para ter onde vender a energia gerada por novas térmicas.
Além disso, pede tarifas de energia mais altas para compensar perdas ligadas ao racionamento e reivindica regras mais claras no tocante à variação cambial no caso de gás natural importado e a preços de eletricidade regulados pelo governo.
Todos esses fatores geram os atrasos na operação de novas usinas, algumas delas já construídas, como a da El Paso, inaugurada no Estado do Rio esta semana, ou a da Enron, inaugurada há vários meses. Algumas empresas, como a EDP de Portugal, estão reavaliando seus planos no Brasil, citando problemas de preços.