Difícil imaginar um monte de alunos disputando a vez para falar e dar a sua contribuição sobre a matéria em plena aula de matemática. Este, talvez, venha a ser um dos poucos saldos positivos da crise de energia, já que dentro das salas de aula nas escolas não se fala de outro assunto e professores de física e matemática vibram com o interesse repentino em suas disciplinas. As matérias, vilãs antigas dos bancos escolares, estão experimentando o gostinho da popularidade com os estudantes, que andam ávidos por entender o que se passa no país e, principalmente, dentro de suas casas. “Os últimos acontecimentos foram ótimos para mim, como professora eu me realizei”, comemora a professora de matemática Sílvia Maria Sacramento, do Colégio Augusto Laranja, em São Paulo. “A matemática virou a estrela da escola'', acrescenta.
A crise de energia tem feito com que a rotineira hora do jantar transforme-se na agitada hora dos cálculos, o que acabou por despertar a curiosidade de filhos querendo ajudar na economia doméstica e participar do esforço compulsório no país. A estudante Julia da Rosa Howat Rodrigues, 12 anos e aluna da 6ª série da professora Sílvia, conta que aprendeu a fazer a média de consumo de sua casa e chegou ao número que seus pais terão que alcançar com o corte de 20% de energia. Agora, é ela quem policia a família para desligar os aparelhos e se “antenarem na situação”.
“Nunca ninguém imaginou que um país tropical como o Brasil, cheio de rios, passaria por uma situação destas. Mas agora estou aprendendo não só a fazer as contas, mas também a dar valor para as coisas”, explica Julia. O pessoal é abastado, mas está começando a entender que recursos financeiros não garantem a continuidade dos naturais. Eles agora estão aprendendo na prática que é preciso preservar para utilizar'', diz o professor de física do Augusto Laranja, Winston Gomes Schmiedecke.
Winston tem pedido aos seus alunos da 8ª série que tragam uma lista dos aparelhos eletro-eletrônicos que mais usam em casa, com a informação do fabricante sobre sua potência.
Através de conceitos físicos e matemáticos, os alunos calculam quanto de energia consomem estes produtos e quais deles valeriam mais a pena serem alvos de economia.
“Estamos formando um cara mais crítico...depois dos exercícios, eles voltam para casa e acabam orientando pai e mãe sobre o que fazer para poupar''. Heinz Hillermann, do Colégio Bandeirantes e professor de física há 30 anos, acredita que, através de discussões em sala de aula, é possível engajar os alunos, fazer com que entendam a crise melhor e dêem suas próprias sugestões. “Quero ganhar adeptos para combater a crise”, prega.
Hillermann garante que suas aulas viraram palco de grandes discussões, o que para ele é positivo para criar um ''conhecimento de grupo''.