A crise energética levará o Brasil a renegociar algumas metas acertadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), como a inflação, o índice de crescimento e o volume do superávit primário nas contas públicas, revelou nesta quinta-feira o chefe do departamento econômico do Banco Central, Altamir Lopes.Segundo Lopes, a crise provocará mudanças no superávit primário, que deveria ser de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) no final de 2001. O funcionário também antecipou uma queda na arrecadação do governo, que pode não cumprir as metas acertadas com o FMI, apesar dos cortes de gastos do Executivo.
A crise energética também afetará os planos de arrecadação do governo com a privatização de Furnas, que foi adiada para 2002. Esta é a primeira vez que o governo brasileiro admite rever as metas fiscais em consequência da crise.
A crise energética, somada a recente alta do dólar, também coloca em risco a meta de inflação para 2001, que poderá subir de 4% para 6%. Para evitar uma alta exagerada da inflação, o governo já elevou a taxa básica de juros para 16,75% ao ano.
Com esta decisão, as autoridades monetárias pretendem segurar os preços, mas a medida certamente reduzirá o crescimento, que ficará abaixo dos 4% previstos no acordo com o FMI.
A dívida líquida do setor público também deve ultrapassar as metas acertadas com o FMI, já que os cálculos do governo foram baseados no dólar a 2 reais, mas a moeda norte-americana já está valendo 2,35 reais. Em abril passado, a dívida pública do Brasil já chegava a 596,7 bilhões de reais, enquanto a meta para setembro próximo é de 612,5 bilhões de reais.
Em novembro de 1998, o FMI montou um pacote de ajuda ao Brasil totalizando 41,5 bilhões de dólares em créditos, que foi vinculado ao atual programa de ajuste fiscal.