Sérgio Gwercman/Redação TerraEm menos de um mês, a Eletropaulo, distribuidora de energia para a maior cidade do país, viu o número de atendimentos em um de seus principais escritórios em São Paulo quase triplicar. No Poupatempo de Santo Amaro, local onde 25 órgãos se reuniram para prestar melhor atendimento à população, cerca de 2,3 mil pessoas têm ido, por dia, aos guichês da distribuidora, ao invés das cerca de 800 que iam ao local antes do anúncio das medidas para o racionamento.
Ontem, primeiro dia do racionamento nas residências, a empresa inaugurou um sistema de atendimento por telefone com 200 atendentes e 100 linhas, que registrou recorde de ligações. O número de ligações não atendidas também foi alta: a reportagem fez 35 tentativas, das 14h às 19h30, para o telefone 0800-7712393, sem conseguir ser atendida uma única vez.
Poupatempo - Desde o anúncio do racionamento, a Eletropaulo deixou de ser apenas mais um dos 25 órgãos atendendo ao público, para se tornar a maior dor de cabeça de Luis Aguine, gerente do Poupatempo de Santo Amaro. "Desde abril, o serviço prestado não está dentro do padrão, que pede atendimento em no máximo uma hora", reclama Aguine. A fila de atendimento no guichê da Eletropaulo é enorme. A espera, cansativa, supera duas horas em média. Resultado: a distribuidora de energia é a grande campeã no ranking do mau atendimento dentro do Poupatempo. Recebeu 67% das 360 reclamações de usuários registradas no último mês.
Hoje, recebendo cerca de 2,3 mil pessoas por dia, a Eletropaulo lidera no ranking dos órgãos que mais atendem a população no local. Superou até mesmo as expedições de carteiras de identidade pela Polícia. A previsão é que o número de pessoas que irão aos escritórios da empresa só tende a crescer, já que os casos especiais no racionamento terão que ser discutidos diretamente com a distribuidora. Isso inclui desde hospitais ou pessoas que têm UTI em casa e não podem ter energia cortada até recém-casados que se mudaram para o apartamento antes vazio.
Dúvidas sobre o racionamento - Irritados com as medidas do racionamento, diversas pessoas foram hoje ao guichê da Eletropaulo reclamar. A auxiliar de escritório Maria de Lourdes, por exemplo, afirma que no bairro Messiânica, na zona sul, não há água encanada e os moradores são obrigados a usar bombas para garantir o abastecimento. "Como economizar luz, se não temos água? Para encher uma caixa de 500 litros, são 30 minutos com a bomba de 220v ligada", reclama Maria. Ela e os vizinhos estudam entrar com uma ação contra o governo para não cumprirem a meta de economia.
Quem divide o mesmo relógio de medição com mais de uma família, também enfrenta problemas. A conta da funcionária pública Luzia do Nascimento apontava consumo de 832 kWh/mês em abril. Já economizando, chegou aos 651 kWh/mês em maio. "Mas, no ano passado, só moravam 12 pessoas nas quatro casas que dividem o mesmo relógio. Hoje são 17 e ainda tem um nenê para nascer", diz Luzia, preocupada. "Se eu não conseguir baixar os 20%, ainda vou ter que pagar a maior taxa de multa".
Os erros na medição do relógio também assustam consumidores e não só aqueles como o sindicalista Edval Inocêncio Paiva, que viu sua conta saltar de R$80,00 para R$ 1108,00 em apenas 30 dias. Desde janeiro, uma vez ao mês, a secretária Margarida dos Santos foi ao atendimento da Eletropaulo para reclamar a redução de sua conta, que acusava 1097 kWh/mês de consumo em uma casa onde moram três pessoas. Nunca conseguiu resolver o problema. Ontem, ela recebeu a carta com a meta de redução de energia. Média de consumo: 127 kWh/mês. Meta: 101kWh/mês. "Na hora de cobrar eles dizem que eu gasto muito. Na hora de cortar, que eu não gasto nada. É brincadeira", esbravejava.
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