Brasileiros na Bolívia apoiam Revalida, mas criticam prova médica

Ítalo Milhomem
Direto de Santa Cruz de la Sierra

"Não quero chegar no Brasil e dizer 'sou médico'. Quero uma avaliação adequada. Falar que não seremos bons profissionais é demagogia", dispara Gideão (C)
Crédito: Arquivo Pessoal

  Apesar de não terem o diploma reconhecido automaticamente ao retornarem ao País, brasileiros entrevistados pelo Terra que estudam medicina na Bolívia se mostraram favoráveis ao Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras, o Revalida. Contudo, eles criticam o formato da prova, que qualificam como injusta.

  "Sempre soube deste problema da revalidação, que é o grande fantasma que todos falam. Mas é justo ele existir, porque a medicina não pode ser uma porteira aberta, em que qualquer um possa trabalhar. Queremos é que a revalidação também seja justa. Em algumas provas o conteúdo não é adequado para quem acabou de se graduar. São questões que nem médicos com especialização conseguiram solucionar", diz o baiano Sávio Avelino Silva, aluno da Universidade Dom Aquino, (Udabol).

"Medicina não pode ser uma porteira aberta", defende Sávio
Crédito: Ítalo Milhomem / Especial para o Terra

  A mesma opinião é dividida por Mariana Biasi, de Santos, e Gideão Mosa Neves, do Mato Grosso do Sul. "A legislação diz que as disciplinas para revalidação têm de ser as que não são equivalentes entre as duas grades curriculares. Aqui não temos geriatria ou Sistema Único de Saúde (SUS), que teriam que ser

validadas. Aplicam uma prova de nível de especialista. Quem passa tem que ganhar de brinde o diploma de uma especialidade. Por isso que de 600 inscritos só passam quatro", argumenta o sul-mato-grossense.

  Mariana vai além. Para ela, teria de existir uma prova para todos os acadêmicos de medicina, formados no País ou fora. "Sou a favor da prova, desde que seja justa. O grau de dificuldade é bem superior ao que seria exigido para quem acabou de sair da faculdade. Ela é feita para reprovar. Sou a favor de um exame para os formandos do Brasil, para poder avaliá-los também", reclama. "Por que não fazem um exame único para todos, sejam formados na Bolívia, no Brasil, em Angola ou em Cuba?", defende Gideão.

  Foi com esse pensamento que o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) adotou um exame similar ao da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para avaliar os futuros médicos. Realizada há sete anos em caráter facultativo, a prova passa a ser obrigatória a partir da edição que será aplicada no próximo dia 11 de novembro. "A iniciativa desta obrigatoriedade foi tomada em decorrência da queda acentuada na qualidade do ensino médico. Exames opcionais realizados pelo Conselho nos últimos sete anos revelaram que quase metade dos graduandos saem das escolas despreparados, sem as mínimas condições de exercer a Medicina", diz o Cremesp em nota publicada em seu site.

  Diferentemente da OAB, o registro dos novos médicos ainda não está condicionado ao resultado, mas à participação. Todos, graduados ou formandos deste ano, têm de fazer o teste para obter o documento que libera a atuação profissional no Estado. E mesmo quem se formou fora e fez o Revalida precisa passar pela prova. E caso algum médico perca o exame, tem que assinar um termo se comprometendo a fazer a prova seguinte, sob pena de perder o registro.

  Enquanto estuda para se formar, Gideão já projeta que terá que lidar futuramente com o preconceito por parte de médicos graduados no Brasil. Para ele, o estudante que faz medicina fora tem de se esforçar em dobro na volta para casa. "Temos de estudar mais e voltar com mais gana para mostrar que somos tão bons quanto os formados no Brasil. Também temos capacidade! Não quero chegar no Brasil e dizer 'sou médico'. Quero uma avaliação adequada. Li em uma matéria que o Cremesp realizou prova de avaliação com médicos recém-formados no Estado, que é o maior mercado e que tem a maior quantidade universidades, e só a metade passou. E isso que as universidades enviaram seus melhores alunos. Então, estamos iguais. Não é a universidade que faz o profissional. Falar que não seremos bons profissionais é demagogia", finaliza.