Mudanças climáticas ameaçam a Antártida

Solly Boussidan, Direto da Antártida

O aquecimento global e a mudança climática pela qual o planeta passa atualmente são foco constante de ações preventivas de governos e ONGs em todo o mundo. Há grande debate na comunidade científica sobre se essas mudanças estão relacionadas diretamente à ação do homem ou se constituem mais uma modificação cíclica nos padrões climáticos da Terra. Cientistas que realizam pesquisas na Antártida são, entretanto, unânimes ao afirmar que os efeitos, independentemente do agente causador, já podem ser observadas no continente polar.

“Esta é minha sexta expedição à Antártida e em quase quatro anos no continente é muito fácil notar como as coisas estão mudando rapidamente”, diz Tomasz Janeckiego, biólogo e comandante da base polonesa Henryk Arctowski, localizada em Admiralty Bay, na Ilha de King George, que faz parte do arquipélago antártico das Ilhas Shetland do Sul.

“Os verões sempre foram muito curtos aqui, mas comparado a outras partes do continente, os invernos eram relativamente brandos”, diz Tomasz. Seu colega, o mergulhador e pesquisador Michal Adamczyk, complementa: “os verões nunca são muito longos, mas definitivamente têm dado uma esticada”. “Obviamente não estamos falando de dados e observações científicas neste caso, mas de percepções pessoais de variações que vêm ocorrendo ano a ano”, explica Tomasz.

A base polonesa Arctowski foi construída em 1974 e encontra-se muito próxima a uma geleira. Há 36 anos, pesquisadores medem o quanto a geleira recua no verão devido ao degelo e quanto desse gelo é reacumulado ao longo do inverno. “Desde que começamos a medição, a geleira já recuou cerca de 500 metros de seu ponto inicial, mesmo assim, temos observado nos últimos anos que a quantidade de gelo recuperada tem sido muito maior que de costume, pois as temperaturas estão muito mais frias e há muito mais neve que antigamente”, explica Tomasz. “Falamos muito em aquecimento global, mas nós temos experimentado é um verdadeiro congelamento local”, brinca o biólogo polonês.

O quanto essas mudanças vão afetar o frágil ecossistema antártico – e as implicações disso para o restante do planeta – é o que Tomasz, Michal e seus companheiros da base Arctowski tentam agora responder.

Fotos

Foto: Solly Boussidan / Especial para o Terra