Acompanhado por vaias o presidente chileno, Ricardo Lagos, disse nesta segunda-feira que a época do governo socialista de Salvador Allende e da ditadura de Augusto Pinochet ficaram para trás e que a construção de uma sociedade melhor depende agora dos chilenos. "Não queremos um Chile para poucos. Queremos um Chile com capacidade de convocar a imensa maioria nacional", disse o presidente socialista durante a inauguração de uma estátua de Salvador Allende, que hoje completaria 92 anos e teria se suicidado em 11 de setembro de 1973 ao eclodir o golpe comandado por Pinochet.Diante de ruidosos manifestantes que erguiam bandeiras do Partido Comunista e do desmobilizado grupo guerrilheiro Frente Patriótica Manuel Rodríguez, Lagos afirmou que com Allende na memória "queremos plasmar agora o futuro caminho da nossa pátria que nos convoca a todos".
Perante milhares de pessoas que assistiam à cerimônia, entre as quais a viúva de Allende, Hortencia Bussi, e suas filhas Isabel e Carmen Paz Allende, foi descoberta a estátua de 3 metros do ex-presidente, localizada na praça da Constituição, diante do palácio do governo, enquanto os manifestantes repetiam em coro o emotivo discurso de despedida de Allende, quando o golpe já estava em marcha.
Durante todo o ato, os manifestantes de extrema esquerda vaiaram os oradores e exigiram em megafones "verdade e justiça" e "julgamento para Pinochet" cuja sorte está na Suprema Corte, que em julho revogará ou confirmará a suspensão da imunidade de que goza como senador vitalício.
"Não basta gritar para fazer as mudanças indispensáveis para obter uma Constituição democrática", afirmou Lagos, visivelmente aborrecido com os manifestantes, e defendendo a coalizão de centro-esquerda que governa o Chile há dez anos.
O governante acrescentou que não era hora de discrepâncias e, sim, "de unidade em torno dos valores fundamentais de um estado de direito e de um sistema democrático", que torne possíveis as reformas constitucionais e a solução das violações de direitos humanos, estabelecendo o paradeiro dos desaparecidos durante a ditadura de Pinochet.