Convivendo, desde pequeno, com situações barra-pesada (amigos que se envolveram com tráfico de drogas, mortes e dificuldades econômicas), Garnizé soube driblar tudo isso com força de vontade e a ajuda fundamental da música. Sem exageros, o batera é, hoje, um dos orgulhos dos moradores de Camaragibe. O fato de tocar num grupo de destaque e os projetos sociais que desenvolve com crianças e adolescentes da cidade são os principais motivos que o levam a ser reconhecido e parado nas ruas por admiradores. Situação bem diferente de anos atrás, quando era discriminado e taxado de "malandro" e "maconheiro", por causa do seu visual (tatuagens e piercings) e do tipo de música que faz.

Em novembro de 1999, o Projeto Criarte, no qual Garnizé atua, ganhou do governo federal o prêmio "Prefeito Criança". Esse projeto é responsável por tirar centenas de crianças e adolescentes das ruas. Camaragibe, que é governada por Paulo Santana (PT), concorreu com outros 179 municípios e, no final, acabou sendo premiada.

Convidado pelos cineastas Marcelo Luna e Paulo Caldas (o qual, juntamente com Lírio Ferreira, dirigiu o premiado Baile Perfumado) a protagonizar o filme O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas - que será lançado no IV Festival de Cinema do Recife - Garnizé viveu uma situação bem desagradável, durante umas das filmagens do longa. "Foi no Presídio Aníbal Bruno. Na saída do prédio, uns policiais me pararam e disseram que eu não podia sair porque que era um preso. Depois de muita conversa, eles finalmente me liberaram", relata. Até hoje ele não sabe os reais motivos que levaram os agentes a agir daquela forma: desinformação, preconceito ou marcação? (nota: tempos atrás, todos os membros da banda foram detidos pela polícia, durante um show, por conta da execução da música "Homens Fardados").

Garnizé está no Faces do Subúrbio há, mais ou menos, quatro anos. Sua iniciação musical se deu aos sete anos de idade, em terreiros de candomblé. Seu primeiro grupo foi o thrash metal The Ax. Sobre o trabalho de sua atual banda, ele destaca as influências da música brasileira e o sotaque nordestino, os quais, segundo diz, servem como pontos de distinção entre o trabalho do Faces e os rappers americanos. "A música deles é muito quadrada", afirma.

Programado para sair em abril, o segundo CD da banda, vem cheio de novidades: "Todas as composições foram feitas em conjunto. O disco novo vem com muita coisa de música brasileira: Jorge Ben e Roberto Ribeiro, por exemplo", adianta o batera/ator.

O RAP DO PEQUENO PRÍNCIPE... - O documentário mergulha no cotidiano de Camaragibe e Alto José do Pinho, na periferia de Recife, para contar a história de dois jovens, um músico e um matador que num momento tiveram suas vidas entrelaçadas mas optaram por armas diferentes. Misturando ritmo-imagem e poesia-som, o filme revela o que pensa e como pensa uma parte do movimento hip-hop brasileiro. No ano passado, O RAP... mereceu destaque no jornal americano New York Time.