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Fica Mal com Deus

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Caldo de Cana

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DAVID GANC se dedica à flauta em CALDO DE CANA

por Henrique Koifman



Qualidade e sensibilidade são adjetivos nem sempre associados à música. Mas são fundamentais à boa música e poderiam muito bem definir este suculento CALDO DE CANA (Kuarup) que, no capricho, DAVID GANC nos oferece agora.

Tendo gravado mais de 100 discos com estrelas da MPB, Ganc faz seu segundo CD em vôo solo desta vez dedicado à flauta. O instrumento é o grande destaque de Caldo de Cana. David deixou de lado o saxofone – base do Baladas Brasileiras, seu primeiro CD solo - e dedicou-se a ela, coisa rara em disco no mercado nacional. Um retorno às suas origens com o instrumento que toca desde os sete anos. Nesse início, com a flauta doce era só música renascentista. Aos 14 anos, tocava flauta transversa e iniciava no erudito com Odette Ernest Dias. Aos 16, encontrou Jaques Morelenbaum, que o levou para o conjunto A Barca do Sol, no lugar do Ritchie. Saído da Barca, foi para Berklee, onde formou-se em Professional Music. Voltou para o Brasil e desde então faz sólida carreira, participando da gravação de mais de 100 discos, dentre os quais trabalhos de grandes nomes da MPB como Caetano Veloso, Gal Costa, Beto Guedes, Luiz Melodia, Elba Ramalho, Simone, Moraes Moreira e muitos outros.

E o melhor som/sotaque brasileiro está bem representado logo no primeiro gole deste Caldo de Cana, Fica Mal com Deus, de Geraldo Vandré, em arranjo do próprio clima agreste sofisticado. "É minha homenagem ao Quarteto Novo, grupo que acompanhava Vandré nos anos 60 e que era formado pelos grandes músicos Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte, Airto Moreira e Theo de Barros, para mim, o berço da música instrumental brasileira", explica David Ganc. Ele é acompanhado por Leandro Braga (piano), Ronaldo Diamante (baixo), Márcio Bahia (bateria), Mingo Araújo (percussão) e pelas cordas do Quarteto Guerra Peixe, solando em flautas em Dó e em Sol.

Divertimento, de Nivaldo Ornelas, é a segunda faixa do CD. Piano (Leandro Braga),cello(Iura Ranevsky) e flauta se alternam em solos e acompanhamento da bela melodia, entremeada por diferentes climas.

A faixa título, logo em seguida, foi escrita por David em 1978 e é dedicada a Zé da Flauta. "Naquela época eu circulava muito com o Zé, que havia chegado pouco antes do Recife para lançar o primeiro disco de Alceu Valença", conta Ganc, que só fez a harmonia de Caldo de Cana em 1999. A alegria nordestina é representada pela percussão de Mingo Araújo e pela viola de João Lyra.

Memento/Catavento, faixa número 4, é o que David classifica como um "maracatu mântrico". A música foi composta por Nando Carneiro, que também toca violão. "Meu filho Daniel, hoje com 10 anos, disse quando ouviu o tique flautístico que precede a música que as cores mudavam na sua frente. Será que algum adulto ainda consegue ver as cores mudarem sob o efeito do som?" pergunta David. O clima de sonho se mantém, com tempero mais romântico, em Noturno, outra bela composição de Nivaldo Ornelas dedicada ao amigo David Ganc em 1986. Flauta e piano (de Monique Aragão) soam puros, por vezes dobrando a melodia, em outras duelando ou fazendo contraponto um para o outro.

O ritmo muda radicalmente em Na Tradição do Frevo, parceria de David com Vittor Santos. É um tributo a Teca Calazans e aos muitos amigos que Ganc tem em Recife. A bateria de Márcio Bahia segura o pique. A sétima faixa, Impressão de Choro, foi composta pelo pianista Leandro Braga – que acompanha David ao piano – em homenagem ao cantor e compositor Guinga, com melodia elaborada e original bem ao estilo do homenageado. "É mesmo uma impressão de choro, com andamento lento, captando a emoção de uma gravação ao vivo", diz David. Já Vó Argemira, música seguinte, tem clima mais intimista e foi composta por Nando Carneiro. "Nando e eu somos amigos desde a época de A Barca do Sol e ele sugeriu que não gravássemos o violão, criando uma sonoridade singular com a flauta e o baixo acústico cantante de Zeca Assumpção" conta David.

O samba Pro Marçal é a nona faixa do CD. "Tinha vontade de gravar este samba do baterista César Machado com Fernando Merlino há muitos anos. Me surpreendia o fato de nunca ter sido gravado por instrumento de sopro, como a melodia pede", diz David. Destaque para as participações de Artur Maia (baixo) e Vittor Santos (trombone) e para o solo de Leandro Braga, ao piano.

Caldo de Cana termina com Inútil Paisagem, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, com um arranjo elaborado de Vittor Santos. Para interpretá-lo, David Ganc se desdobra em nove canais de gravação (picollo, duas flautas em dó, duas flautas em sol, dois saxes altos e dois saxes tenores) e tem a companhia de Cristiano Alves (dois clarinetes e clarone).

Caldo de Cana tem produção musical do próprio David Ganc, foi gravado entre abril e junho de 1999 no Drum Studio e seu projeto gráfico é de Gringo Cardia.


O CD Caldo de Cana pode ser encontrado nas melhores lojas, encomendado diretamente à Kuarup nos fones 21-524-4047 ou 524-4048 ou pedido pela Internet, no endereço www.kuarup.com.br Preço na gravadora: R$15,00. Quem quiser contactar David Ganc pode fazê-lo pelo e-mail: dganc@uol.com.br



 

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