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Macmania Test Drive

Posso me considerar um cara privilegiado. Moro em São Paulo e posso ir a pé de casa para o trabalho, coisa que quem conhece o trânsito da cidade sabe que é uma vantagem e tanto. As únicas coisas que carrego de um lado pro outro todo dia são um tocador de MP3 (Rio 500, resenhado na Macmania 77) e um disco FireWire externo (Que! M2, Macmania 85) para becape e transporte. Imagine a minha alegria ao saber que o primeiro produto da Apple em cinco anos que não é um Mac é uma fusão entre esses dois aparelhos. Valeu, Jobão!

Por essa introdução já dá pra perceber que vai ser difícil manter a isenção e a imparcialidade neste test drive do iPod. Farei o possível. Até chamei o Carlos Bêla, colaborador da Macmania e um dos primeiros donos de iPod do Brasil, pra dar seu depoimento. Mas ele se revelou mais parcial ainda.

Se você não é uma pessoa muito emepetrescêntrica, vai achar um absurdo pagar ao redor de R$ 1.700 por um aparelhinho para ouvir música. Sim, o iPod é caro pra xuxu, mas esse é o preço da tecnologia que ele carrega. Com o iPod, a Apple conseguiu fazer o que muitos tentaram, mas ninguém conseguiu: o tocador de MP3 ideal. Todos os que vieram antes tinham problemas: tocadores de CD não cabem no bolso, os que cabem usam cartões de memória carésimos e limitados, os baseados em HD são pesados e trambolhudos. Além disso, nenhum deles traz uma interface que possa ser chamada de "intuitiva". Alguns nem têm nem interface digna desse nome.

Tirando o pequeno problema do preço, o iPod é perfeito. É o primeiro aparelho a colocar o equivalente a 100 CDs no seu bolso e dar controle completo sobre o que você quer ouvir a qualquer momento. Algo como carregar sua estação de rádio particular.

O HD do iPod é menor ainda que os discos internos de iBooks e PowerBooks. Consequentemente, ele é mais caro que HDs normais. Discos externos FireWire portáteis do tamanho do iPod custam quase tanto quanto ele. E não tocam MP3.

Interface amigável, enfim

Passado o choque do tamanho, o segundo choque: o da interface. A Apple descobriu não um, mas dois Ovos de Colombo. Primeiro: a rodinha com botão central para rolar as listas e clicar. Com uma mão só, você passeia por todas as suas músicas sem esforço. Graças a ela, o iPod passou com louvor no teste da "operação cega" no bolso da calça. Segundo Ovo: limar os botões de On/Off e Stop. Aperte Pause e a música pára. Espere alguns segundos e o iPod desliga. Aperte Play e ele volta tocar a música de onde parou. A fonte Chicago nos menus dá uma ótima leitura e traz boas recordações aos velhos macmaníacos. Três linhas de texto são o suficiente para mostrar artista, título e disco da maioria das faixas.

Quem tem ou já teve um tocador de MP3 sabe que o máximo que a maioria oferece em termos de interface é a possibilidade de colocar suas músicas dentro de pastinhas.

O iPod é bem mais flexível, organizando as músicas por playlist, artista ou título, e ainda usando o nome do disco como subdivisão. Dá pra achar qualquer música em questão de segundos. Só faltou a possibilidade de "bookmarkear" determinadas músicas para depois criar uma playlist ou deletar as mais caídas. Com sorte, os magos de Cupertino podem implementar isso numa próxima versão do software.

Mas o impacto maior é na hora de passar as músicas do Mac para o iPod. Primeiro passo: plugue o cabo FireWire no Mac e no iPod. Segundo passo: não tem segundo passo! Todas as músicas que estão catalogadas no iTunes passam automaticamente para o iPod. E rápido. Santo FireWire!

Claro que, se você tem suas músicas espalhadas por duas máquinas, alguns HDs externos e uns tantos CDs (como eu), a coisa fica um pouco mais complicada. Mas o iPod tem um efeito colateral interessante: você acaba tendo que organizar melhor seus MP3s, colocando os tags certinhos e criando várias playlists para facilitar as coisas na hora de ouvir. Criei até uma playlist "Novos" para, nos momentos de pressa, jogar nela as músicas que ainda não estão "nos conformes".

FireWire, por quê?

Muita gente criticou a Apple por lançar um produto fantástico para um mercado restrito (donos de Macs com porta FireWire). Correu na Internet o comentário de Bill Gates, ao botar as mãos no iPod: "Parece um produto sensacional. É só para Macintosh, é?" Os próprios donos de Mac sem FireWire protestaram. Mas o fato é que a porta de alta velocidade é outra solução mágica que aumenta a facilidade de uso do aparelho. Com o FireWire, o sync do iPod com o iTunes é instantâneo, às vezes é difícil acreditar que ele já aconteceu. Dá pena de todos os outros tocadores, baseados em USB. Para encher os 6 GB de um Nomad Jukebox, você precisa deixá-lo plugado no computador por 5 horas.

Para lotar o iPod bastam 10 minutos. Outra vantagem: o iPod carrega a bateria pelo próprio cabo Firewire, enquanto você sincroniza suas músicas ou troca arquivos com o Mac. Se você costuma ligar o iPod ao Mac pelo menos uma vez por dia, vai acabar esquecendo que existe uma bateria lá dentro. Em quatro dias de uso intensivo, ela praticamente não baixou do nível de 80%.

Troca-troca opcional

Quer mais? A integração com o iTunes é o ó do bobó. Você pode optar por sincronizar automaticamente toda a sua coleção de músicas (o default), só algumas playlists ou manualmente. No modo manual, dá para deletar determinadas músicas ou playlists dentro do iPod e plugá-lo no Mac dos amigos para catar uns sets maneiros.

Só não dá pra passar as músicas do iPod para o Mac. Pelo menos não oficialmente (ver o box "iPod na contramão"). Usar o iPod como disco externo não requer prática nem tampouco habilidade. Segundo a Apple, dá até para instalar o sistema e "bootar" pelo iPod. Bote mais um Norton Disk Doctor e pronto: você tem o primeiro aparelho de recuperação de discos que toca música. Ideal para quem viaja com seu laptop. Infelizmente, não tivemos tempo de testar essa função.

Aguenta o tranco?

Muita gente pode estar se perguntando se é sensato sair andando (ou correndo, ou dançando) por aí com um HD de quase dois paus no bolso. Afinal, essas coisas são sensíveis a choques e movimentos durante a leitura. Não se preocupe, seja feliz. Na maior parte do tempo, o disco do iPod fica parado e as músicas são lidas de um chip de memória de 32 MB. Ou seja, o que a maioria dos MP3 players traz como memória principal o iPod tem de cache. Parado, o HD é bastante resistente a chacoalhadas. Não chegamos a derrubá-lo no chão, mas a grossa camada de plástico transparente que protege o visor de cristal líquido parece bem resistente.

Só para não dizer que não achei nada pra falar de ruim do bicho, vamos a alguns probleminhas. Como a maioria dos lançamentos da "linha branca"da Apple, o iPod tem duas características peculiares: esquenta pra burro e seu fundo de aço cromado risca fácil. O acabamento metálico, por sinal, lhe valeu o apelido de "marmitinha" aqui na editora. Felizmente, ele só esquenta quando está sendo carregado pelo FireWire. No uso diário, fica até bem fresquinho. Quanto aos riscos, se você se incomodar com isso, basta usar uma capinha. Não é difícil encontrar no camelô uma capa de celular que acomode confortavelmente o iPod.


O futuro

No final das contas, mesmo que você não seja muito ligado em MP3, numa coisa é preciso concordar: o iPod é um grande passo da Apple em uma nova direção. Ele prova que aquela história de "hub digital" não era apenas blablablá marqueteiro, mas realmente uma decisão estratégica. Segundo Jobs, da idéia de fazer um aparelho que representasse o conceito de hub digital ao lançamento do iPod foram-se apenas oito meses. Imagine o que eles não farão em dois anos, se seguirem esse caminho.

O próprio nome do aparelho, apesar de esquisito, é genérico o suficiente para abrigar qualquer tipo de gadget tecnológico capaz de se conectar a um Mac (ou conectar outros aparelhos a um computador). A Sony que se cuide.

Heinar Maracy
Passou por uma crise de abstinência de iPod quando teve que devolver o modelo de testes para a Apple.