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Macmania Test Drive

Quantos lados tem um Cubo?

por Heinar Maracy e Mario AV

Avaliar o Cubo em apenas alguns dias de uso foi bem difícil. Não pela escassez do tempo, mas por causa dos sentimentos algo esquizofrênicos que ele causa em alguns de nós, usuários de Mac de longa data sedentos de novidades. Além disso, colhendo as opiniões de outras pessoas que viram e mexeram no Cubo, o resultado foi ainda mais misturado. Não poderíamos desconsiderar as opiniões por vezes opostas sobre cada aspecto da máquina, porque cada uma reflete uma verdade particular sobre o produto.

Chegamos a duas visões válidas e diferentes sobre o Cubo, aqui representadas por dois personagens fictícios e imaginários, cujos nomes foram trocados para preservar suas identidades. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou não tão vivas, é mera provocação:

Juracy Q. Parque
Usuário de Mac desde o Lisa. Passou pela revolução do DTP, pela saída do Jobs, pela revolução da Internet e pela volta do Jobs. Sabe de cor quantos pentes de RAM cabem em cada modelo de Power Mac e ainda tem o disquete original do Photoshop 1.0. Trabalha com vídeo e Web design e dá consultoria. Seu hobby é passear na Santa Ifigênia (lendária rua de lojas de eletrônicos em São Paulo) atrás de Macs antigos. Decorou o escritório com um Classic e montou uma rede de Macs em casa. Para ele, desempenho e confiabilidade são tudo, e não se impressiona com qualquer "tecnofirula".

Paul K.Pratka
Tem um Pentium II montado, que não dá mais no couro, e resolveu comprar uma máquina mais decente. Curioso, ouviu falar há algum tempo em um tal de iMac, de uma certa Apple, mas nunca mexeu em um. No fundo, acha essa coisa de computador colorido meio "boiola", e seus amigos usuários de Wintel insistem que PC é mais rápido que Mac. Mas aí ele viu um comercial mutcholoco de um tal de "Quíubi", folheou uma Macmania na banca, acessou uns sites de rumores sobre Mac na Internet e finalmente resolveu ir até uma revenda Apple para saber mais a respeito.

Vamos ver, então, o que cada um de nossos críticos fictícios tem a dizer sobre o filho caçula de Steve Jobs.


Acabamento

Paul K.Pratka - Realmente, é uma máquina como PC nenhum poderia ser. Só mesmo a Apple para ter a ousadia de embrulhar um computador, caixas de som, um monitor, um mouse e um teclado em plástico cristalino. De muito perto, o aspecto é um tanto barato, mas a maneira como a luz brinca por dentro e ao redor das peças é uma sensação! Esse conjunto fica melhor ainda com uma lâmpada spot apontada para ele, como se fosse em um showroom. O Cubo é um espetáculo à parte - pequeno, despojado e sem a mais remota similaridade com os feiosos caixotões beges aos quais nos acostumamos passivamente no mundo Wintel. E não é berrantemente colorido como os iMacs, os quais, para muitos "pecezistas", não passam de brinquedos.

Juracy Q. Parque - Se você reparar melhor, o acabamento do Cubo tem suas "pegadinhas". Perto das duas cabeças de parafuso em cima e nas laterais, há pequenas marcas parecidas com trincas ou riscos fininhos. Claro que eu sei que isso é um inofensivo subproduto da injeção do plástico. Mas teve gente que se incomodou tanto com essa "falha" que quis trocar seu Cubo, achando que ele fosse rachar ao longo dessas marcas... Outra coisa: tenha sempre uma flanelinha a postos. Essa máquina pega sujeira dos dedos de quem quer que a toque, e como ninguém resiste a tocá-la, logo ela fica cheia de impressões digitais. Finalmente, alguém já se ligou no peso do Cubo? Dizem que em Cupertino o apelido dele é "Buraco Negro" - pequeno e extremamente denso... O mais engraçado é que o case externo de policarbonato e metal compreende metade do peso! Não vou nem mencionar o tijolaço que é a fonte de alimentação externa.


Ergonomia

Paul K.Pratka - Para ligar, é só encostar a mão no topo? Não diga! Que curioso, o case é de metal mas o lugar por onde se encosta o dedo para ligar a máquina tem uma luzinha branca. E o monitor também tem comandos desse tipo: símbolos impressos no painel com luzinhas brancas que acendem por dentro e sensores invisíveis que basta encostar o dedo para acionar. A Apple aprendeu a fazer belos truques ópticos com seus produtos.

Juracy Q. Parque - Eu detestei essa inovação. Para início de conversa, o teclado não tem mais a tecla de ligar. Quer dizer, é preciso pegar no Cubo tanto para ligar quanto para restartar (porque, a despeito do que Jobs quer que nós pensemos, ainda é necessário fazer essas duas coisas com certa regularidade). Mas o pior mesmo é que cada visita que entra na minha sala vê a luz acesa no topo do Cubo, põe a mão nela e minha máquina dorme! Ah, o liga/desliga do monitor também atua no Cubo? Beleza, mas como eu já tinha outro modelo de monitor, isso não adianta nada, certo? E, fora o liga/desliga, o único comando existente no monitor da Apple é um que faz abrir o painel Monitors do Mac OS. Para ajustes eventuais isso é um exagero, e lento em Cubos com pouca memória. A Apple crê mesmo que isso é mais prático que os simples e tradicionais botões de brilho e contraste? Não acho.


Áudio

Paul K.Pratka - Essas caixinhas de som em forma de bola são incríveis! Outra coisa absolutamente sem similar no mundo PC. O som é simplesmente fantástico (com as tampinhas protetoras removidas). Tem um conteúdo de graves razoável, agudos cristalinos (se bem que um pouco "secos"), e como a difusão sonora é muito ampla, as caixas preenchem o ambiente de tal forma que a origem do som passa despercebida, exceto pela vibração dos domos de alumínio. O detalhe absurdo é que o som é digital - quer dizer, ele vem para as caixas pela porta USB e é convertido em analógico e amplificado por uma pequena caixinha que também traz um plug de áudio para fones de ouvido. É um conjunto totalmente inovador!

Juracy Q. Parque - É uma inovação surpreendente, mas não perfeita. O Cubo não tem portas de áudio convencionais (aquelas com plug P2), a não ser o plug para fone no conversor. Você fica preso às opções de falantes USB, que atualmente não são muitas. Mas o real problema é que você precisa remover as tampas protetoras que fazem os falantes parecerem bolas de boliche, porque com elas colocadas o som fica sujo, igual a um radinho de pilha. Uma vez expostos, os lindos domos de alumínio adoram ficar riscados por qualquer motivo. Resumindo: som bom, domos riscados; caixas preservadas, som podre. E as caixinhas não têm volume suficiente para acompanhar um filme de ação em DVD. Na hora de um som mais forte, dão um apavorante estalo de distorção - PRAC!


Hardware e manutenção

Paul K.Pratka - Eu entendi bem? Para abrir é só tirar os cabos, virar o Cubo, soltar uma alça e puxar tudo para fora? Que cômodo! Bom, nem tanto; para abrir o G4 torre, nem é preciso soltar os cabos. O conteúdo é compacto, mas é acessível por quatro lados. Tudo à mão. Até colocar memória é fácil, os três slots estão bem à vista. A memória é SDRAM PC-100? Ótimo, é do tipo mais comum e barato que existe. Posso comprar para ele memória "de PC" sem receio.

Juracy Q. Parque - Nisso a Apple está de parabéns. Trocar RAM e HD e instalar a placa AirPort são tarefas simples que podem ser feitas por qualquer uw. Eles até colocaram um tutorial no site (www.info.apple.com/support/ cip/index.html), fato inédito. E você vai precisar dele, pois o Cubo vem com apenas uma plaquinha de 64 MB. Isso mal dá para rodar o Mac OS 9! Tudo bem, quem se dá ao luxo de adquirir o Cubo merece pagar extra por mais memória. Quê, o Cubo não tem slot PCI? E o HD é mais lento que os dos G4 torre (5400 rpm em vez de 7200)? Grrrrr...


Monitor

Paul K.Pratka - O monitor opcional é outra surpresa grata. Já tinha visto em algum lugar o Cinema Display, mas não esperava que surgisse uma versão de 15" tão depressa. Ele tem um ângulo de visibilidade lateral fantástico, incomparável.
A nitidez é perfeita e a estabilidade da imagem permite até "photoshopar" com ele. Sem falar que é absolutamente belo, compacto, e o único cabo que ele possui é o que traz juntos a energia, a conexão USB adicional e o sinal de vídeo. Elegância é isso aí!

Juracy Q. Parque - O sistema exclusivo de cabo único significa que esse monitor só serve no Cubo e nos G4 novos, o que é uma pena - eu adoraria ter um desses para mirror ou segundo display de uma máquina anterior ao Cubo. E, pelo preço que custa, ainda prefiro me virar com meu monitor convencional plugado na saída de vídeo alternativa do Cubo (padrão SVGA). Não fosse pelo detalhe de que o conector de vídeo simplesmente não cabe no espaço disponível - o do meu Samsung levanta a traseira do Cubo da mesa! Aliás, essa montoeira de cabos saindo para baixo definitivamente não é a coisa mais prática do mundo.


Ruído x ventilação

Paul K.Pratka - O sistema de ventilação sem ventoinha do Cubo é uma dádiva. Como o case inteiriço bloqueia o ruído do HD, ele é o computador mais silencioso que existe - mais até que os laptops.
A obstinação de Jobs nesse particular rendeu bons frutos. E também o eficiente chip G4 - seria totalmente impossível uma proeza dessas se fosse um Pentium, que sem um cooler com refrigeração forçada, derrete em instantes.

Juracy Q. Parque - Não faço tanta questão do silêncio; meu ambiente de trabalho não é um mosteiro budista! Com uma boa e velha ventoinha, talvez desse para colocar dois chips G4 no Cubo, o que o tornaria muito mais atraente. Quem precisa de desempenho a valer se vê forçado a comprar uma daquelas enormes torres G4 e escondê-la sob a mesa. Não se pode ter tudo... Outra coisa: se alguém distraidamente pousar uma folha de papel sobre o Cubo, tapando a saída de ar, será possível que ele queime? Ah, ele "dorme" quando superaquecido? Menos mal, mas ainda não é o ideal.


Mouse

Paul K.Pratka - O novo mouse óptico é como ele sempre deveria ter sido. Confortável, anatômico e à prova de sujeira. O acabamento é elegante sem chegar a ser espalhafatoso, e a idéia de toda a superfície de cima ser clicável é ótima. Incrível como a Apple conseguiu passar anos oferecendo aquele incômodo mouse redondo.

Juracy Q. Parque - Cadê a versão com botão direito e rodinha de scroll? Eu preciso desesperadamente dessas coisas para trabalhar com um mínimo de eficiência. Mouse de um só botão, simplesmente não dá mais! Diga adeus aos velhos vícios, Apple! Enquanto isso não ocorre, continuo com o meu Intellimouse Explorer USB, que dá muito mais jogo.


Teclado

Paul K.Pratka - Teclado completo! Até que enfim. O teclado "aleijado" que vinha com os Macs até agora fora um equívoco. Eu já estava quase olhando com desejo para o teclado USB da Microsoft, mas este tem tudo o que se precisa para viver, no mínimo espaço.

Juracy Q. Parque - O teclado novo tem teclas para ejetar o CD/DVD, teclas de volume e F13 a F15. Mas não tem a tecla de ligar! A sua função foi assimilada pela tecla de Eject. Para acionar a famosa caixinha de diálogo "dormir/desligar/restartar", agora o comando é [Control][Eject] - não exatamente intuitivo. De qualquer forma, espero que o futuro Mac OS X seja tão estável quanto fala a Macmania - já passou da hora de aparecer um sistema operacional que não trave nunca mais, dispensando de vez a necessidade de um comando de restart.


Preço x sofisticação

Paul K.Pratka - Bom, quanto ao preço, realmente, a coisa pega. Mas você não pergunta quanto custa um Jaguar, ou um aparelho de som da Bang & Olufsen! É o preço a se pagar por um design de primeira e um computador capaz de impressionar clientes e garotas. Quem quer compra, não importa quanto custe.
Se agora não estou podendo, é claro que ano que vem o Cubo vai estar mais barato - mas até lá a Apple já vai ter inventado algo mais deslumbrante...

Juracy Q. Parque - Discordo! Computadores ainda não chegaram ao grau de refinamento de um carro ou um sistema de som. Para começar, automóveis não ficam obsoletos em questão de semanas. E no quesito confiabilidade, se softwares fossem carros, explodiriam o motor ou perderiam a direção inesperadamente...
A dura realidade é que o Cubo está caro, e é por isso que ele não decolou. A Apple posicionou o Cubo entre as linhas doméstica e profissional em tudo, menos no preço, que é Pro. Na hora da compra, só quem está mesmo fascinado pelo design vai optar pelo Cubo, quando pode levar uma torre G4 de 400 MHz pagando menos, ou uma com dois processadores pagando RS 1,8 mil a mais.


Quem tem a razão?

E aí? Quem está mais certo, o novato deslumbrado ou o velho macmaníaco ranheta? Provavelmente, nenhum dos dois. A resposta com certeza está no meio do caminho.
O fato é que a Apple mais uma vez conseguiu criar um computador que é uma paulada na mesmice vigente entre os fabricantes pecezistas. O Cubo é a Apple naquilo que sabe fazer melhor: aliar design e engenharia, elegância e funcionalidade. E mesmo não acertando o alvo de cara, é nítida a intenção da Apple de atender usuários que não se adequam nem ao iMac, nem a um G4 torre. Designers, webmasters, audiófilos, videastas, fotomanipuladores, gente que trabalha no silêncio do seu lar/escritório e precisa de uma máquina poderosa, mas que não estrague a decoração.

Infelizmente, Hardy Yuser, nosso personagem fictício que se encaixa nessa categoria, não pôde ser encontrado para dar seu depoimento. Ele tinha saído para comprar seu Cubo.

Ficha técnica
· Processador: PowerPC G4 450 MHz*
· Cache L2; Backside, 1 MB
· Memória: 3 slots PC-100; 64 MB (instalada), 1,5 GB (máxima)
· Placa de vídeo: ATI RAGE 128 Pro* AGP 2x
· Resolução máxima: 1920 x 1200 em monitorers analógicos; 1600 x 1200 em monitores digitais
· Drives: ATA, 20 MB* e DVD-ROM "slot-loaded"
· Portas: 2 USB, 2 FireWire, Ethernet 10/100 Base-T, modem 56K, AirPort (opcional)
· Tamanho: 24,8 x 19,5 x 19,5 cm
· Peso: 6,6 kg
· Preço: R$ 5.930

*Modelos com 500 MHz, 20 MB ou 30MB de disco e placa de vídeo ATI Radeon estão sendo vendidos diretamente pela Apple nos EUA. Não há previsão de sua chegada ao Brasil.