O quanto há de você em Donetti?
Não sou um tipo Donetti. Tenho uma vida extremamente estável, sou casado há 37 anos com a mesma mulher. Logo vou ser tombado por um museu de história natural. Sua persona de escritor sintetiza a minha observação dos escritores. Tenho rodado pelo Brasil e conheci muitos autores. Noto um substrato irritadiço no trabalho do escritor e do artista em geral, a sensação de ser um injustiçado, de estar aquém do merecido. Uni uma série de traços e criei um Frankenstein. De autobiográfico, só mesmo as folhas amarelas manuscritas, pois escrevi quase todos os meus livros assim. Agora entrei na era do computador.
A figura paterna é marcante na trama e você perdeu seu pai ainda criança. A literatura é uma forma de exorcizar essa falta?
Pode ser. A figura do pai está sempre presente em meus livros e tive uma ausência paterna na vida. Aí pode até haver todo um processo psicanalítico a se desenterrar. O tema "pai e filho" é muito literário e forte para a nossa cultura desde o século 19, com a família nuclear instituída. Claro que há o pai bíblico, mas, na época da nobreza, a figura do pai e a noção de família quase não existiam.
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