Atriz estreia como autora teatral em Usufruto, em que uma mulher mais velha e um jovem (Raphael Viana) vivem um jogo em que discutem amor, fidelidade e sexo
Por que você optou por mostrar um jovem careta e uma mulher mais velha moderna?
Ele representa uma geração, essa de 30 anos. Tenho 51 anos e minha geração lutou por mudanças políticas, sociais. Essa de agora me assusta. Converso com o pessoal que faz tevê, que é um ambiente supostamente mais aberto, e fico chocada. São jovens caretas e reacionários.
Pelo que diz, você acredita no que sua personagem fala sobre liberdade no relacionamento, liberdade sexual, e não nos conceitos românticos do rapaz
. Mas eu também penso como ele, mas não tenho esse verniz careta. Penso numa relação duradoura, mas sem hipocrisia. É claro que o sexo esfria, que o amor se transmuta. Acredito nisso. Se amei um dia, vou continuar amando a vida toda. Não sou do tipo que se refere ao "falecido". Nas minhas festas de aniversário, olho e tenho a impressão que já namorei todo mundo (risos).
A peça vem sendo chamada de "provocadora". Já havia feito algo assim?
Só Por um Triz Não Sou Feliz (1985), em que ficava nua em cena. Houve quem se levantasse e fosse embora. Com Usufruto, isso só aconteceu uma vez, em Fortaleza. Quando abaixei a calça do Raphael, uma senhora disse: "Para mim, chega". Se levantou e foi embora (risos).
Acha que as pessoas têm preconceito de ir ver a peça por ser um texto escrito por uma atriz?
Sinto isso até entre meus amigos. Tive de insistir com um deles para que fosse ver a peça. As pessoas não se interessam por ator que faz outras coisas. Acham lindo as americanas que cantam, dançam, atuam. Aqui não pode. É uma chatice. Ninguém se interessa pelo que se tem a dizer. Sempre falei abertamente sobre essas coisas que estão na peça, sobre hipocrisia, homossexualidade. Não veem e não querem saber. (16 anos)
Teatro FAAP - r. Alagoas, 903, São Paulo, tel: (11) 3662-7233. Até 1/4