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Maria Adelaide, na sala principal, num dos raros intervalos de trabalho. O sofá é o Strip da Forma. Ao fundo, a cristaleira feita com janelas antigas. À esq., o lavabo coberto por fotos e cartazes de espetáculos de sua autoria. Na parede do corredor, mais fotografias. À dir., a biblioteca, no escritório onde ela escreve todos os dias
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A cadeira colorida dos irmãos Campana, presente da amiga Milú Vilela e a cadeira de balanço THONART, há 35 anos na família.
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PERGUNTE À ESCRITORA e dramaturga Maria Adelaide do Amaral se ela coleciona alguma coisa em seu apartamento de 400 metros quadrados e a resposta virá rápida: "não". Um não que nasce depois de um olhar ao redor, atento. As peças são muitas, mas nenhuma delas parece ter sido colocada para ficar ao lado de outra, em série.
A vastidão de peças, contudo, indica que Maria Adelaide acumula experiências na memória, nas paredes, nos móveis, nas prateleiras, escondidas atrás das portas de correr e nos papéis que brotam da tela do seu computador. É o universo de uma contadora de histórias. O apartamento localizado numa das ruas mais tranquilas do bairro de Higienópolis, na zona oeste de São Paulo, precisou passar por uma reforma para oferecer o espaço necessário ao estilo de vida e para as muitas lembranças da escritora, que nasceu na pequena cidade de Conselho de Valongo, próximo ao Porto, em Portugal.
Aos 12 anos, ela chegou a São Paulo. Hoje é uma das mais premiadas autoras de novelas, minisséries e peças de teatro no Brasil. É vida que impõe arquitetura e decoração adequadas. O projeto do apartamento foi confiado ao filho, Rodrigo Amaral, e à nora, Carina Pederzoli, ambos arquitetos. A dupla fez a sala crescer de 64 para 102 metros quadrados. Assim, espaços foram integrados e o ambiente ganhou mais luminosidade e uma imensa mesa de jantar, lugar-chave para quem é cercada de amigos, queridos amigos. "Minha mãe gosta muito de receber gente em casa, ao mesmo tempo em que precisa de sossego quando está trabalhando, por isso o escritório pode ser isolado quando os netos estão em casa, por exemplo", conta Rodrigo.
Outro ponto alto do projeto são os conjuntos de estantes e portas de correr que servem para dividir os ambientes e acomodar as dezenas de quadros de diversos autores e épocas. Quando uma delas se abre, mais obras são reveladas. "Não tenho mais parede para pendurar, ganho muitos de presente", conta Adelaide. O décor mistura relíquias como a cadeira Thonart, há 35 anos na família, e ícones do design moderno como as poltronas Wassily , uma cadeira colorida dos irmãos Campana e bancos Barcelona. A estante de imbuia na entrada da sala foi projetada por Maristela Gauldi em 1965 para a fábrica Pentágono. Nela, Maria Adelaide organiza livros, vasos, fotos e objetos, tudo arrumado de forma extremamente pessoal, mas fruto de um olhar de esteta.
"Acho que tenho olho bom, o problema é que ele às vezes sempre escolhe o mais caro", ri a escritora. Foi esse olhar que a fez arrematar dos pais e da sogra belíssimos aparelhos de jantar - com destaque para o lusitano Vista Alegre azul e branco, guardado numa cristaleira feita de portas de janela antiga. A dona da casa dispensa a cada relíquia sentimental a mesma atenção. O Volpi sobre o aparador fica ao lado de duas fotos de Iolanda Penteado, feitas em1920 e no início do anos 1930.
A história de Iolanda (1903-1983) uma das responsáveis pela criação da primeira Bienal de São Paulo e do Museu de Arte Moderna, ao lado do marido Ciccilo Matarazzo, foi contada por Adelaide na minissérie Um só coração. A dramaturgia parece abraçar seu cotidiano. Tudo na casa remete ao trabalho, aos antigos e futuros. Maria Adelaide anda sem tempo ultimamente. Está debruçada sobre os escritos de uma minissérie a respeito da cantora Dalva de Oliveira, um roteiro de cinema e os capítulos da nova trama das sete da Globo. Em poucos meses talvez o filho, Rodrigo, precise derrubar mais alguma parede para abrir espaço para as histórias que vêm por aí.
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