 |
Mia Couto se tornou uma das vozes mais originais da literatura portuguesa contemporânea
|
O MOÇAMBICANO MIA COUTO costuma dizer que a "língua deve se libertar de suas amarras e usufruir o poder divino da palavra". Nos 29 contos reunidos em O Fio das Missangas (Companhia das Letras, 152 págs., R$ 34), o autor se apropria da escrita para criar singelos pedaços de vida. Os habituais neologismos de obras como Terra Sonâmbula e O Outro Pé da Sereia agora são empregados como instrumento de interpretação. É preciso abstrair o sentido puro da palavra e mergulhar no simbolismo para sorver os muitos significados de, por exemplo, "A Saia Almarrotada", ou "Mana Celulina, a Esferográvida". Couto faz música com diálogos e em textos breves condensa a alma de seu País.
Ex-militante político (de esquerda), ele se tornou uma das vozes mais originais da literatura portuguesa contemporânea. Jamais é panfletário e é pelo lirismo que retrata graves questões sociais, entre as quais as péssimas condições de vida dos africanos. O folclore e os ditos populares são a matéria-prima desse valioso colar. Não raro, o escritor zomba da realidade e espia o absurdo, como na inusitada história do homem que cai do céu. A política e os costumes se descortinam pela poesia, mas a lucidez acerca dos problemas não esmorece. A mulher e o negro são protagonistas de histórias de sonhos frustrados, de solidão, de vidas interrompidas, de desamor. Ainda assim, não existe amargura no universo coutiano. A leveza, a simplicidade e uma criatividade pungente fazem das dores dessa gente uma alegria de leitura. Suzana Uchôa Itiberê
Li e gostei Vanessa Lóes
"Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. É maravilhoso e estimulou a minha imaginação" (Companhia das Letras, 312 págs., R$ 44)
Vanessa Lóes é atriz