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O tropicalista Jards Macalé é considerado um dos “malditos” da MPB |
EMERGIDO NA MARÉ tropicalista dos anos 60 que revolveu os conceitos de cafona e moderno da música brasileira, Jards Macalé não construiu a carreira fonográfica a que fazia jus por seu talento. Logo após o fim do tropicalismo, o artista foi jogado na vala dos “malditos” da MPB ao lado de nomes como Luiz Melodia, Walter Franco e Sérgio Sampaio (1947 – 1994). Macao, o álbum ora lançado pela Biscoito Fino, é o décimo título solo de uma discografia que se tornou injustamente espaçada ao longo dos últimos 40 anos.
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Em Macao, o compositor se revela preguiçoso, apresentando somente três músicas inéditas, sendo que uma delas, o samba “O Engenho de Dentro”, jazia no baú havia alguns anos, à espera de retoques. Entre regravações da própria lavra, o brilho maior é do intérprete. Embora possua voz de pouco alcance, Macalé sabe valorizar as intenções de músicas alheias. Nesta seara, há grandes momentos no CD. Em “Um Favor”, Macalé ratifica a habilidade para mergulhar no universo amargurado de Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974), o compositor gaúcho cuja obra ele já havia abordado de forma magistral no álbum 4 Batutas & 1 Coringa (1987). Em “Ne me Quitte Pas”, o artista passa todo o sentimento de abandono sugerido na letra de Jacques Brel sem apelar para arroubos vocais. A maldição, se existe, é a do mercado, que faz com que Macao chegue às lojas com magra tiragem de 1,5 mil cópias.