O humor sarcástico e irônico é um traço marcante da prosa da espanhola Rosa Montero. Este talvez seja um dos motivos que fazem com que se leia A Filha do Canibal (Ediouro, 336 págs., R$44,90) em uma sentada. Mas, sem dúvida, existem outros. Escrito em 1997 e adaptado para o cinema pelo mexicano Antonio Serrano com o título de Aos Olhos de uma Mulher, o romance que ganha edição brasileira também cativa o leitor pela prosa ágil e pelo carisma da narradora e protagonista Lucía. Escritora de livros infantis, ela procura extrair lições da vida, principalmente da vida conjugal e seus percalços, munida de uma deliciosa veia cômica. Heroína às avessas, por excesso de sinceridade ela logo de início avisa que mente.
 |
Rosa Montero controla bem a ação e mantém o suspense com a habilidade |
Em ritmo acelerado, a trama se abre já em meio ao seqüestro do marido da personagem e dá muitas voltas até que o caso seja solucionado. Com mão segura, a autora controla bem a ação e mantém o suspense da narrativa com a habilidade de um bom romancista policial. Mas é no processo de autoconhecimento de Lucía que a história se estrutura. Vendo-se inesperadamente solteira, sem filhos e em meio à temida crise dos 40, ela desfruta a novidade mais do que imaginava e descobre prazeres triviais, como deixar os CDs desorganizados ou ler até altas horas, por exemplo. Entre o romance policial e o reflexivo, A Filha do Canibal é ao mesmo tempo uma aventura e o relato despretensioso de uma mulher em busca de realização pessoal.
A vida começa aos 40    
|