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25/06/2001
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TEATRO
REGINA
BRAGA
Rainha no palco
Aos 55 anos e dois Molière no currículo,
a atriz, mulher
do médico Dráuzio Varela, reina em monólogo e diz
que não faz tevê por não ter pique
Edwin
Paladino
Silvana
Garzaro |
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A atriz
Regina Braga é uma diva com rosto de mulher real. As marcas
de expressão na testa, presentes quando gesticula com entusiasmo,
indicam um possível senso prático para eliminar problemas.
Talvez um traço da realidade cotidiana de quem, décadas
atrás, levava os dois filhos para as coxias dos teatros por
não ter com quem deixá-los quando saía para
trabalhar. Essa moldura dá aos olhos azuis da atriz um semblante
doce e grave. Passam uma leve melancolia. Você acha?,
diz ela.
O colorido
dos móveis afasta essa impressão. Na casa de Regina,
um amplo apartamento no bairro de Higienópolis, em São
Paulo, uma poltrona amarela alegra o visual próximo à
mesa cinza que fazia parte do cenário de uma peça.
Uma cadeira azul realça a sala, onde há um intacto
piano tcheco, presente do ex-marido, mesmo sem saber tocar. O arremate
é dado pelas flores. Orquídeas e um girassol recebidos
na estréia da peça Um Porto para Elizabeth Bishop,
em cartaz em São Paulo.
Regina
escolheu a melhor amiga para escrever um espetáculo teatral.
Em janeiro do ano passado, pediu à jornalista Marta Góes
um texto com histórias sobre o Brasil. A resposta estava
na ponta da língua. A amiga contou-lhe de Elizabeth Bishop,
uma poetisa norte-americana, homossexual, que viveu entre 1951 e
1966, no Rio. Apresentou-lhe poemas, livros e impressões
da escritora sobre o povo, a cidade e seus arredores. Não
sabia nada sobre Bishop, mas me apaixonei pela vida dela,
diz Regina. Marta elaborou a peça em dois meses e os ensaios
duraram três. Por sua atuação no monólogo,
a atriz de 55 anos arranca aplausos fervorosos da platéia.
Dá uma sensação tranqüilizadora,
diz Regina. É uma grande atriz e fico lisonjeada por
me escolher para escrever um espetáculo, elogia a autora.
A
amizade de Regina e Marta transcende os palcos. Somos íntimas,
diz Regina. A jornalista é madrinha do ator Gabriel Braga
Nunes, de 29 anos, filho da atriz. Mas foi a filha de Regina, a
fisioterapeuta Nina Braga, que selou a aproximação.
Certa vez, Marta mostrou uma foto de sua infância para a amiga.
É a Nina!, disse Regina, ao olhar a fotografia.
Não, sou eu!, respondeu a jornalista. Nina reitera
a semelhança. Eu era muito parecida. Tenho os mesmos
olhos verdes da Marta quando menina, diz ela, hoje com 27
anos. Regina e Marta costumam freqüentar teatros e shows de
samba de raiz do Villagio Café, tradicional bar paulistano.
Vamos com nossos maridos, diverte-se Marta, mulher do
jornalista Nirlando Beirão. Quem os convida, é o médico
Dráuzio Varella, marido de Regina há 20 anos. A
amizade delas é muito bonita e antiga , diz ele.
Silvana
Garzaro |
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O primeiro
casamento de Regina foi com o diretor teatral Celso Nunes, pai de
Gabriel e Nina. No final dos anos 60, estudaram teatro em Paris
por três anos. Nosso namoro era uma ousadia, conta
o diretor. Éramos jovens e não havíamos
casado no papel. Na capital francesa, ela ia a todas as montagens
de graça por ser estudante.
Histórias
sobre a temporada no exterior não faltam. Numa viagem, visitaram
amigos no Marrocos. Como estava de jeans, não podia juntar-se
aos homens na casa do amigo. Explicaram que Regina não era
marroquina. Mesmo assim, colocaram-lhe túnica, jóias
e escovaram seu cabelo. Parecia uma rainha. E o pai do meu
amigo ofereceu-a para casar com o filho dele, conta Celso.
Com
30 anos de carreira, ela contabiliza dois prêmios Molière
e poucos trabalhos na tevê. O bom da televisão
está no Rio e eu não moro lá, diz Regina.
Também não tenho pique de fazer um espetáculo
e gravar por doze horas no outro dia. Ela recebeu o primeiro
Molière em 1983, com a peça Chiquinha Gonzaga,
e o segundo em 1991, por Uma Relação Tão
Delicada. É impressionante a devoção
dela ao teatro, atesta Dráuzio. Segundo ele, a agitada
rotina profissional do casal não interfere no relacionamento.
Tenho o privilégio de estar com uma mulher madura que
entende quando fico muito tempo fora, diz Dráuzio.
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