
Giovanna
Antonelli |
15/01/2001
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“Perdi
minha identidade”
A atriz diferencia garotas de programa de prostitutas e conta
que, com o sucesso de Capitu, até amigos antigos a chamam pelo nome
da personagem
Márcia
Montojos
Leandro Pimentel |
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“Capitu
não é prostituta, é garota de programa. É como qualquer jovem.
Poderia ser sua vizinha sem que você percebesse o que ela
faz”
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Ultimamente,
só engarrafamentos a tiram do sério. Domingo 7, Giovanna
Antonelli voltava de Angra dos Reis para o Rio com o marido, o publicitário
Ricardo Medina, e fechou a cara quando avistou a imensa fila indiana
de carros na Rio-Santos. Por pouco tempo. De sua Blazer preta modelo
2000, abriu o irresistível sorrisão ao dar de cara
com uma galera no carro vizinho gritando: Capitu!!.
Giovanna
está de bem com a vida e comemora o sucesso. Aos 25 anos,
50 quilos e 1,68 metro de altura, diverte-se com o título
de símbolo sexual. Eu não, sensual é
a Capitu, diz ela. Espontânea, falante e carinhosa no
trato com as pessoas, Giovanna aponta a garota de programa de Laços
de Família como um divisor de águas em sua carreira,
iniciada aos 11 anos no teatro amador.
O
ano 2000 marcou, ainda, a estréia de Giovanna no cinema,
com a elogiada interpretação de Sharon, uma estagiária
de direito no filme Bossa Nova, de Bruno Barreto. Foi
uma feliz coincidência, dois papéis maravilhosos ao
mesmo tempo, afirma. Este ano ela agendou só um compromisso
profissional para esse ano: interpretará Maria Madalena na
encenação da Paixão de Cristo, em abril.
Antes,
em fevereiro, embarca para os Estados Unidos com o marido para realizar
um sonho, adiado pelo início das gravações
da novela. Vão percorrer a Califórnia de carro e depois
curtir uma temporada na Europa. Enquanto as gravações
não terminam, ela relaxa em seu apartamento na Barra da Tijuca,
onde colhe alfaces cultivadas na hortinha da varanda e paparica
Simba, o labrador que chama de filhão.
A
que você atribui o grande sucesso da personagem Capitu?
Ela interessa por não ser uma caricatura. A Capitu não
é uma prostituta, é uma garota de programa e aí
tem uma diferença. Se ela ficasse de roupinhas curtas, à
noite, na praia, não despertaria tanta curiosidade. Mas ela
é uma garota como qualquer outra jovem carioca, que poderia
ser sua vizinha sem que você percebesse o que ela faz.
Você
tinha idéia de como era a vida de uma garota de programa?
Não. O trabalho de pesquisa foi fundamental para eu compor
a personagem. Perguntei tudo o que você possa imaginar, coisas
que eu tinha curiosidade em relação a sexo, tudo.
Antes, imaginava que elas eram iguais às prostitutas. Foi
uma surpresa perceber que elas se vestem igual a mim e freqüentam
ambientes sofisticados. Conheci meninas extremamente inteligentes,
cultas, elitizadas e articuladas. Elas não saem com homens
necessariamente para transar. Servem de companhia em viagens ou
jantares de negócios. Elas me ajudaram muito, falaram sem
constrangimento, só para ajudar. Foi um papo muito interessante,
que durou mais de cinco horas.
Você
continua mantendo contato com elas?
Com uma delas continuo. Não saímos ainda porque estou
sem tempo. Mas quando tiver, com certeza, iremos jantar e bater
um papinho.
E
se uma amiga sua de repente lhe contasse que faz programas? Como
reagiria?
Jamais discriminaria, abomino qualquer tipo de preconceito. Tentaria
ajudar de alguma forma, até porque hoje em dia a situação
do País está muito difícil para os jovens.
Muitos têm duas ou três faculdades, falam idiomas e
nem assim conseguem emprego. Tenho muitas amigas que trabalham em
shopping. As pessoas dão o jeito que conseguem para pagar
as contas no final do mês.
Então
acha que ela está certa?
Não acho que ela esteja certa ou errada. Eu nunca passei
por uma situação como a da Capitu para responder o
que eu faria no lugar dela, que tem a grande responsabilidade de
cuidar de toda a família. Só imagino que qualquer
mulher vira uma leoa para defender a cria, que é o caso dela.
Além do mais, ela estuda para sair dessa. Mas só se
pode julgar quando se vive a situação.
A
novela também é vista por adolescentes. Você
acha que a opção dela pode ser um mau exemplo?
Ela não é mau exemplo. Tenho amigos que usam drogas
e eu não uso. Tenho amigos alcoólatras e nem bebo.
Ninguém tem de seguir o exemplo da Capitu, que não
tem uma vida glamourosa, não vai a shopping e não
vive no cabeleireiro. Ela rala à beça, tem a responsabilidade
do filho e dos pais. Ela sofre e anda com gente barra pesada. Acho
muito legal essa postura do Maneco (Manoel Carlos, autor da novela)
em não pintar um mundo maravilhoso para ela, não tem
essa de conhecer o príncipe em um programa.
próxima>>
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