
Personalidade
do ano 2000
Política
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A
prefeita de São Paulo mudou o feminismo nacional, reformou
a cara do PT e anuncia que é candidata à reeleição |
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Foto:
Edu Lopes |
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TRECHOS DA ENTREVISTA |
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Gustavo
Maia
Há
vinte anos, uma psicóloga formada pela Pontifícia
Universidade Católica (PUC-SP) deu seu primeiro passo rumo
aos lares da família brasileira. À frente de um dos
quadros mais polêmicos do extinto TV Mulher, programa da Rede
Globo, ela deixou o anonimato ao falar abertamente frente às
câmeras sobre sexo. Pela primeira vez, as brasileiras tinham
acesso a orientações sobre doenças sexualmente
transmissíveis e relacionamentos amorosos pela televisão.
A psicóloga virou símbolo das reivindicações
femininas e, com 10 livros publicados, uma das autoras mais lidas
e comentadas da sua especialidade. Quando começo a
fazer algo em que acredito, eu não paro, diz.
Aos
55 anos, Marta Suplicy é o que aparenta ser: elegante, gentil,
de modos quase aristocráticos, inteligente, expedita e segura.
São qualidades que permeiam sua trajetória, desde
que começou a acumular os mais diversos papéis sociais:
esposa, mãe, psicóloga, feminista e política.
De fato, ela acredita no que faz e, em geral, só faz o que
acredita. Depois de ser derrotada para o governo de São Paulo,
em 1998, lançou-se candidata ao lugar do prefeito Celso Pitta.
A
partir de janeiro, escorada em 3,2 milhões de votos, exatos
58,5% dos eleitores paulistanos que foram às urnas em outubro,
ela passa a comandar a quarta maior metrópole do mundo. E
não é só. Marta desafia as mais altas doutrinas
do PT, a começar pelo time que escolheu para ajudá-la
na nova empreitada. No seu secretariado há petistas de carteirinha,
como o jornalista Rui Falcão, encarregado da pasta de Governo,
e nomes muito mais heterodoxos, como o economista João Sayad,
titular das Finanças e Desenvolvimento Econômico.
Edu Lopes |
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“Adoraria
ser avó. É meu sonho, estou só esperando um dos filhos tomar
a atitude’’ |
A determinação
da nova estrela política do PT foi testada e aprovada nos
sucessivos passos da sua vida pública. Em 1994, angariou
76,2 mil votos e foi eleita deputada federal. Em Brasília
criou e conseguiu aprovar a lei que garante às mulheres 20%
das vagas dos partidos em qualquer pleito no Brasil. Mexeu ainda
em outro vespeiro: fez um projeto que dá direito ao casamento
civil entre pessoas do mesmo sexo, oferecendo-lhes as mesmas garantias
legais de qualquer outro casal. O projeto ainda não passou
no Congresso, mas pode ser votado a qualquer momento. Escolhida
pelo PT para concorrer ao governo de São Paulo, há
dois anos, perdeu a disputa, mas os 3,7 milhões de votos
lhe garantiram uma nova conquista: a de recordista de votos para
o cargo em toda a história do PT.
Dentro
de casa, ela também acredita no que faz e só se entrega
totalmente àquilo em que acredita. Marta sempre decidiu como
e onde os três filhos Eduardo, André e João
deveriam estudar até que eles estivessem prontos para
o vestibular. O marido, o senador Eduardo Suplicy, só se
intrometia na questão, quando os filhos usavam um tom mais
agudo para responder à mãe. Ela brigava mais
que meu pai, mas sempre nos apoiou no que queríamos fazer,
diz Supla, 34 anos, cantor e compositor. Marta é companheira,
amiga e nunca adversária política do marido. Ela defende
os projetos dele, como o da Renda Mínima, que garante reforço
de um salário mínimo para a família carente,
desde que as crianças freqüentem a escola.
Ricardo Giraldez |
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No
guarda-roupa da prefeita há vários tailleurs de fino
corte, blusas de seda pura e sapatos de saltos altos. Marta é
reconhecidamente uma mulher que sabe se vestir. Arruma tempo ainda
para estar em forma física. À exceção
da época de campanha, ela costuma fazer caminhadas matinais
ao lado do marido no Jardim Europa, bairro onde mora numa mansão.
Mas não dispensa jamais um cafezinho para conter a ansiedade.
Na terça-feira 12, foi assim que ela começou a entrevista
exclusiva que concedeu à Gente: Sente-se, tome um café
comigo e vamos conversar, disse Marta, depois de encerrar
uma longa coletiva a jornais, revistas, rádios e emissoras
de televisão.
Qual
será sua primeira ação à frente da prefeitura
de São Paulo?
O primeiro ato será simbólico. No segundo sábado
depois da posse acontecerá a limpeza do Estádio do
Pacaembu. Ele está imundo. Farei uma convocação
pública e estarei lá de vassoura na mão. Será
um símbolo da união entre as torcidas e pela limpeza
da capital.
Andar
de salto alto nas ruas e fazer limpeza são detalhes em que
só as mulheres pensam?
Não. Mas acho que todos os cidadãos gostariam de andar
numa calçada mais bem cuidada. Acho que, às vezes,
ser mulher faz você prestar mais atenção em
itens que prefeitos homens não notariam. Isso inclui tanto
o lado estético, quanto o social, em relação
à pobreza.
próxima>>
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