
Foco
Festival
morre na praia
Guga
Stroeter
A música
popular brasileira é sabidamente uma das manifestações artísticas
mais interessantes do mundo. E o público e a crítica que acompanham
as novas tendências concordam ao avaliar que a nova geração é especialmente
interessante e criativa. Um grande festival fundamentado neste bom
momento cultural deveria, portanto, tornar-se um marco na música
do novo milênio. No entanto, o saldo do Festival da Música Brasileira,
da Rede Globo, foi um misto de decepção e constrangimento. Sinal
evidente disso foi a última cena transmitida no sábado 16: dedos
do público apontando para baixo. Sem falar na audiência, que não
superou os 18 pontos no Ibope da noite da estréia, caindo para 16
na grande final.
Alguns
equívocos conceituais na gênese do projeto podem explicar o fiasco.
Obviamente a Globo do ano 2000 quis imitar a Record dos anos 60,
mas derrapou. É preciso compreender que a Record pouco inventou:
a emissora apenas colocou no ar uma ebulição que já existia por
si só e que expressava os conflitos ideológicos do período. No ano
2000, esta equação está diluída em segmentos que fazem música de
grande representatividade mas que não tiveram uma participação significativa
no festival.
A artificialidade
ficou ainda mais evidente com a forçada atuação dos repórteres,
que tentavam criar a ilusão de que a disputa mobilizava paixões.
Mas nós telespectadores percebíamos que muitas das faixas, cartazes
e balões com os títulos das músicas foram fabricados e distribuídos
pela emissora. A insistência na dissimulação assumiu contornos de
desrespeito, pois os candidatos tiveram sua concentração ameaçada
e foram tratados como calouros, forçados a conceder entrevistas
segundos antes de se apresentar.
Apesar
da idoneidade do júri, da competência dos instrumentistas e arranjadores,
o festival não decolou. A música popular brasileira, essencialmente
autêntica e artesanal, foi distorcida pelos critérios que regem
a guerra de audiência. E morreu na praia.
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