
Monólogo
Quixote
O ator Carlos Moreno tenta superar no palco
estigma
de garoto Bom Bril
Eudinyr
Fraga
Divulgação |
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Moreno:
postura esguia como as figuras dos quadros de El Greco |
É
na obra-prima universal O Engenhoso Dom Quixote de la Mancha,
de Miguel de Cervantes, que se inspira Quixote, mais um monólogo
nos nossos palcos, em cartaz na sala Jardel Filho – Centro Cultural
São Paulo. Evidentemente, a riqueza e extensão do romance não permitiriam
ampla abordagem no curto espaço de pouco mais de uma hora de duração
do espetáculo. Privilegiou-se, sobretudo, o episódio da taverna,
convertido em amplo castelo pelos olhos do fidalgo.
Há
uma frase no romance que sintetiza sua temática: “Isto que a você
parece uma bacia de barbeiro, para mim é o elmo de Mambrino e a
outro parecerá outra coisa”. Ou seja, a dualidade entre o idealismo
e o que se convenciona chamar de realidade. A intenção do texto
(de Carlos Moreno e Fábio Namatame) foi certamente a de estabelecer
um nexo entre o elemento “quixotesco” (o programa se preocupa em
esclarecer o adjetivo) da personagem e o “quixotismo” do ofício
do ator. Mas o humorismo tingido da melancolia do texto original
torna-se, muitas vezes, uma simples procura do pitoresco e do risível,
com o uso de anacronismos fáceis.
O texto
permanece, ele próprio, como um “quixotismo” e não se sustenta plenamente.
O ator Carlos Moreno (mais conhecido do grande público como o “garoto
Bom Bril”), com o domínio mais consistente da voz e com sua postura
esguia, quase ascética, lembra por vezes as figuras dos quadros
de El Greco, contemporâneo de Cervantes. Mas no seu Sancho Pança
é difícil reconhecer Goya, outro pintor que, como o primeiro, definiria
a alma espanhola. Se consegue sugerir a dimensão cômica de Sancho,
Moreno não atinge a dramática de Quixote.
Mas,
se restrições existem à dramaturgia, elas desaparecem no que se
refere à bela encenação. A concepção de luz (Domingos Quintiliano)
e a maravilhosa trilha sonora (Magda Pucci) se conjugam harmoniosamente
sob a direção de Fábio Namatame, que também assina a esplêndida
cenografia e figurinos. Apesar das expectativas voltadas para Moreno,
há muito a se esperar de Namatame, uma verdadeira revelação.
Até
15 de outubro – Centro Cultural São Paulo – Rua Vergueiro, 1000
– São Paulo
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