
Teatro
Tricô
no palco
Fernanda Torres e Débora Bloch se conheceram aos 13 anos, tornaram-se
íntimas e agora encenam juntas a comédia Duas
Mulheres e um Cadáver
Luís
Edmundo Araújo
Foto:
Leandro Pimentel
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“Minha
mãe sempre foi uma grande amiga, foi a primeira a saber quando
dormi com meu namorado”
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Verão
de 1996. Durante um vôo da ponte aérea São Paulo
Rio, Fernanda Torres encontra a escritora Patrícia
Melo. Conversa vai, conversa vem, a atriz conta que procura um texto
de teatro para montar junto com a amiga Débora Bloch e recebe
a sugestão de encenar a primeira peça feita pela escritora.
Na chegada ao Rio, as duas encontram o escritor Rubem Fonseca, que
esperava Patrícia. Fernanda oferece carona aos dois. Debaixo
de um sol escaldante, o carro da atriz enguiça. Rubem e Patrícia
não têm outra alternativa a não ser empurrar
o veículo. Não acreditei quando vi a literatura
brasileira empurrando o meu carro. Foi uma honra, conta Fernanda.
A
história aconteceu de verdade, e marcou o início do
projeto da peça Duas Mulheres e um Cadáver,
que estréia dia 4 de agosto, no Teatro das Artes, no Rio
de Janeiro. Além da estréia de Patrícia Melo
no teatro, o espetáculo marca a reunião de duas amigas
de longa data, que já contracenaram juntas na televisão
e no teatro mas, até então, nunca tinham dividido
o palco praticamente sozinhas. Na peça, Débora e Fernanda
têm a companhia do ator Ricardo Pavão, 48 anos, que
faz o papel do cadáver.
A
amizade das duas atrizes é antiga. Em 1977, Jonas Bloch,
pai de Débora, contracenou com Fernanda Montenegro, mãe
de Fernanda, no espetáculo É. Na época
com 13 anos, Débora era aluna do Colégio São
Vicente, na Zona Sul carioca, na mesma turma de Cláudio Torres,
irmão de Fernanda, que estudava no mesmo colégio,
mas em outra turma. A amizade ficou ainda mais forte quando as duas
decidiram virar atrizes e passaram a freqüentar o mesmo círculo.
Além de atuarem juntas, as duas dividem a produção
da peça, dirigida por Aderbal Freire Filho. O ator
hoje comanda a sua vida no teatro, porque a televisão e o
cinema são grandes demais, diz Fernanda. No teatro
podemos produzir e direcionar nossa carreira. Nesse ponto, eu e
a Débora somos muito próximas. A dupla função
de atriz e mãe é outra semelhança entre as
duas. Mãe de Joaquim, de oito meses, Fernanda começa
a passar por situações já vividas por Débora,
mãe de Júlia, 4, e de Hugo, 1. Tem sempre uma
certa maratona. Você chega em casa e começam outros
ensaios, brinca Débora, casada com o padeiro de luxo
Olivier Anquier.
Ensaiar
e estrear no Rio de Janeiro tem seu lado positivo. Há tempos
sem trabalhar na cidade onde nasceu e cresceu, Fernanda tem aproveitado
o que chama de esquema mãe, mulher, profissional. É
ótimo deixar meu filho em casa, e não num hotel, e
vir para o teatro, diz. Débora também prefere
trabalhar perto de casa, mas ressalva: Você chega em
casa e não vai decorar seu texto, só depois que todo
mundo dorme.
Na
época em que contracenavam na peça Cinco Vezes
Comédia, Fernanda e Débora pensavam em produzir
outra peça com os demais integrantes do elenco, os atores
Luís Fernando Guimarães, Diogo Vilela e Miguel Magno.
Não aconteceu porque as vidas foram para caminhos diferentes,
conta Débora. Eu e Nanda dividíamos o camarim
e, coincidentemente, tínhamos o mesmo desejo sobre o tipo
de espetáculo que queríamos fazer. Duas Mulheres
e um Cadáver é uma história de marido,
mulher e amante, mas não fica só nisso. Na verdade,
a peça é sobre as mulheres, diz Débora.
E sobre homem também, emenda Fernanda, mulher
do diretor de cinema Andrucha Waddington. Se você é
homem, já foi torturado pelo tipo de loucura feminina que
a história mostra. Se você é mulher, se vê
nas duas, completa.
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