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Canções,
Versões
Carlos
Rennó reúne nata da MPB para cantar Gershwin
e Cole Porter
Ramiro
Zwetsch
Canções, Versões reúne músicas de dois dos maiores
compositores norte-americanos em versões abrasileiradas
em letras e arranjos, na voz de artistas como Gilberto
Gil, Tom Zé, Sandra de Sá e outros. As canções de Cole
Porter e dos irmãos Ira e George Gershwin sempre foram
as preferidas dos jazzistas – gravados pelas divas da
voz (Ella Fitzgerald, Billie Holiday ou Sarah Vaughan,
por exemplo), pelos melhores instrumentistas e solistas
(Chet Baker, Miles Davis e John Coltrane) e pelos maiores
crooners (Frank Sinatra e Tonny Bennett).
Em
Canções, Versões aquelas melodias que nos acostumamos
a ouvir com toda a pompa e o virtuosismo do jazz e das
big bands, são desfiguradas com um toque brasileiro,
envolvente e sofisticado. Desde o surgimento da bossa
nova, o intercâmbio entre os instrumentistas brasileiros
e americanos é intenso. Tivemos Tom Jobim gravando com
Sinatra, João e Astrud Gilberto com o saxofonista Stan
Getz, o multiinstrumentista Hermeto Paschoal com Miles
Davis. Desde então, a canção americana vem cativando
também os músicos brasileiros. Da mesma forma que a
leitura jazzística da nossa bossa nova estendia beleza
e possibilidades ao ritmo brasileiro, é extremamente
saudável e enriquecedora a concepção tupiniquim de clássicos
americanos.
As
letras foram convertidas para o português pelo compositor
e letrista Carlos Rennó, com a preocupação de preservar
o sentido e a poesia das originais. “Os versos ‘Oh sweet
and lonely lady be good’, por exemplo, repetem três
vezes a letra ‘l’”, conta Rennó (leia ping pong). “Traduzi
para ‘Ó doce amada dama tem dó’, preservando a aliteração,
só que com o ‘d’.”
As
versões para o português aproximam o público brasileiro
ao universo de Porter e Gershwin, destacando a poesia
e a graça das letras originais em arranjos quase sempre
atraentes. É sempre uma satisfação, por exemplo, ouvir
violão e percussão dialogando harmoniosamente com orquestra
de cordas e harmonias suntuosas.
Caetano
Veloso cumpre a tradição do bom gosto e interpretação
única em “Que De-Lindo”, versão para “It´s De-Lovely”
– que Porter compôs ao avistar a Baía de Guanabara,
quando chegou de barco ao Rio Janeiro, em uma madrugada
de 1935. Elza Soares e Chico Buarque fazem um dueto
encantador em “Façamos (Vamos Amar)” (tradução para
“Let’s Do It, Let’s Fall in Love”, de Porter), em arranjo
que sublinha os pontos de intersecção entre o jazz e
o samba.
Mas
o melhor fica por conta de Ed Motta e da Banda Mantiqueira,
em “Fascinante Ritmo” (“Fascinating Rhythm”), dos irmãos
Gershwin. O timbre grave e volumoso da voz do cantor
embala a canção com suingue irresistível.
Desconstruindo
Porter e Gershwin
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