Romance
Fogo
nas Entranhas
Almodóvar
mistura sexo e humor em pulp fiction eletrizante
Paula
Alzugaray
No
prefácio brasileiro de Fogo nas Entranhas (Dantes
Editora, 124 págs., R$ 18), de Pedro Almodóvar, a atriz
Regina Casé aparece com uma história pouco difundida
sobre o vencedor do último Oscar de Filme Estrangeiro.
Regina revela que, antes de escrever “essa novelinha
safada”, em 1981, Almodóvar só fazia filmes pornôs.
A
paixão do cineasta espanhol por inferninhos, boates
gay e divertidas perversões já chegou ao grande público
em filmes como Labirinto de Paixões (1982). Mas
os anos selvagens de Almódovar produziram títulos muito
mais explícitos, como Sexo Vai, Sexo Vem... (1977)
ou A Queda de Sodoma (1975).
Este
livrinho de bolso da Coleção Babel – focada na pornografia,
no sensacionalismo e na literatura underground – é dessa
época. Como em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos
(1988), as mulheres são as protagonistas soberanas de
Fogo nas Entranhas (que Regina Casé traduziria
para “Calor na Bacurinha”).
Trata-se
de uma turma bizarra de cinco mulheres, moldadas por
Almodóvar para instigar qualquer tipo de fantasia sexual:
uma chinesa, uma frígida, uma ex-espiã disfarçada, uma
figurante de faroestes italianos e uma assistente de
laboratório químico, que um belo dia foge para Ibiza
com um grupo de hippies levando só a roupa do corpo.
Todas “vadias” e ex-mulheres de um chinês sentimental,
dono de uma fábrica de absorventes íntimos – que de
tanto ser traído se transforma no vilão da história.
Sua vingança: condena todas as mulheres de Madri a se
tornarem escravas do desejo.
Como
em um barato folhetim pornográfico, a mocinha não podia
deixar de ser uma ex-freira – “de uma sensatez insana,
que lhe dava um toque de graciosa mediocridade, imprópria
de uma heroína”. Mas a marca inconfundível de Almodóvar
está ali: além do humor deslavado, a incrível habilidade
de reunir fragmentos distantes da vida e atá-los em
um só nó. É o poder da atração (seja ela pelo sexo,
pela amizade ou pela casualidade) – que conduz todos
seus personagens a uma única e derradeira cena final.
Diversão
na certa
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