Perfil
O
vôo de Richard Capelo Gaivota
Gabriela Mellão
Silvana
Garzaro
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O
escritor Richard Bach, no Brasil: aviador que
não gosta de viajar
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Fernão
Capelo Gaivota, o romance que marcou diversas gerações
de adolescentes, viajou 43 países do mundo e chegou
a 40 milhões de cópias vendidas. Já o autor da célebre
história da gaivota que busca seu vôo próprio, o aviador
norte-americano Richard Bach, 63 anos, está em sua terceira
viagem internacional. Ele veio ao Brasil em companhia
de Bárbara, sua segunda mulher, para o lançamento do
livro Mensagens Para Sempre, compilação
das melhores frases de suas obras, um lançamento da
Editora Vergara & Riba na América Latina.
Animado
com a possibilidade de ver as constelações do hemisfério
sul, Bach se confessa introvertido e avesso a grandes
aventuras. Prefere explorar seu próprio mundo interior
e deixar os grandes vôos para os personagens de seus
livros – todos desdobramentos de seu maior sucesso editorial,
lançado em 1970.
Fernão Capelo surgiu na vida de Richard Bach quando
ele era ainda garoto. Costumava esconder-se do vento
atrás de uma pedra, às margens do oceano, para observar
as gaivotas. “Nunca havia entrado num avião, mas já
adorava voar e sonhava ser uma gaivota”, lembra ele,
com lágrimas nos olhos.
Anos
depois, andava pelas ruas da Califórnia – “como muitos
escritores novos, pensando como faria para pagar meu
aluguel” - e ouviu uma voz. “Dizia: ‘Fernão Capelo Gaivota’”,
conta ele. “Estava assustado e disse: ‘Se você acha
que eu sei o que Fernão Capelo Gaivota significa, está
enganado. Deve ter me confundido com outra pessoa’.”
Silêncio do outro lado. Bach sentou-se para escrever.
“Senti a parede desaparecer e em seu lugar vi a imagem
da primeira página do livro”, conta. Descreveu em palavras
as cenas que apareciam diante de seus olhos por cerca
de uma hora, até que, como se tivessem desligado um
projetor, a figura sumiu. “Alguma coisa me disse: ‘Se
você acredita que é o autor desta história, termine-a’”.
Oito
anos e muitas tentativas frustradas depois, o escritor
acordou de um sonho que lhe indicava a continuação da
história. Só então terminou o livro. Com tantas forças
sobrenaturais fazendo com que a obra se concretizasse,
dificuldades na publicação era tudo o que Bach não imaginava.
“Fernão Capelo Gaivota foi meu livro mais rejeitado”,
conta ele, que antes havia escrito três livros.
Perseverante,
resistiu a 18 respostas negativas de editoras até conseguir
publicar o livro que se tornaria um dos maiores fenômenos
editoriais das últimas décadas. Pela primeira vez na
vida, Richard ganhou muito dinheiro. Mas a ganância
falou mais alto: comprou oito aviões, administrou mal
os investimentos e perdeu tudo. “Toda a bênção pode
revelar-se um desastre e todo o desastre, uma bênção”,
filosofa. “O desastre me ensinou que o maior presente
que alguém pode ter é amor.”
Como
a escrita, a aviação sempre esteve presente na vida
de Richard. Seus livros são, inclusive, reflexos de
sua paixão pelo mundo aerodinâmico. “A abrangência das
minhas histórias me surpreendeu. Pensei que só aviadores
entenderiam minhas palavras”, diz. O amor pelos aviões
nasceu com o escritor, mas só se concretizou aos 17
anos, quando ele se alistou na Força Aérea Americana.
“Comecei limpando as máquinas, pelo simples prazer de
tocá-las”, confessa Bach, que trocou a aviação pela
literatura dois anos depois. “Já escrevi 11 livros e
tenho um projeto de mais 50”, diz ele.
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