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Fredy
mora com a namorada, a colega Karina Buhr,
32,
que conheceu no teatro. “Não dá para ter
relação com
gente da minha idade”, diz o ator de 21
anos |
Aos oito anos, Fredy Allan iniciava a carreira
de ator e foi levado por uma diretora para assistir
à peça Ham-Let, no Teatro
Oficina. Em 12 horas de espetáculo, surpreendeu-se
com a imagem de um pênis gigante e a entrada
de atores nus em cena. A encenação
nada convencional motivou uma promessa: “Um
dia, vou fazer esse teatro, porque preciso entender
isso aqui”. Antes de conseguir alcançar
o objetivo, Fredy virou um ator-mirim de sucesso:
em 1994, atuou na série infantil Castelo
Rá-Tim-Bum, da TV Cultura (reprisada
até hoje), interpretando Zequinha, um menino
curioso que queria respostas para tudo. “Eu
decorava o texto e ficava viajando”, conta
o ator. “Era o próprio Zequinha,
estava descobrindo a televisão.”
Na telinha, também fez Vila Esperança,
na Record, em 1998.
Mas a grande paixão era o teatro e
hoje, aos 21 anos, Fredy Allan cumpriu a promessa
de infância: integra o elenco do Teatro
Oficina desde 2000 e está em cartaz em
São Paulo com as cinco peças da
saga de Os Sertões, dirigida
pelo dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa.
O motivo que o levou ao grupo revela a precocidade
do garoto. Aos 15 anos, ele começou a
escrever, com um amigo, um espetáculo
que se passava em 1968, durante a ditadura militar.
Enquanto estudava a atuação de
grupos teatrais no período, descobriu
que o Oficina iniciava as leituras para Os
Sertões. Aprovado, o ator mergulhou
no universo do teatro de Zé Celso e,
já na primeira peça da saga, A
Terra, teve que fazer uma cena nu, na qual
beijava outro ator na boca. O processo de preparação
foi complexo. “O amigo que contracenava
comigo era gay e teve momentos em que ele ficava
excitado”, conta. “Desenvolvemos
uma maneira de nos encostarmos respeitando os
desejos e impulsos de cada um.”
Mais difícil foi administrar a reação
dos pais, Giselle, dona de uma escola, e Frederico,
profissional de informática, quando assistiram
à encenação. “Fiquei
chocada, porque estava acostumada a vê-lo
em peças infantis, aquela coisa bonitinha.
Quando o vi nu, entendi que o Fredinho havia
crescido”, diz Giselle, cuja escolinha
se chama Centro de Recreação Infantil
Zequinha, em homenagem ao personagem mais famoso
do filho.
Antes de aceitar a decisão de Fredy,
a mãe culpou o Oficina quando ele quis
sair de casa, ainda com 15 anos – a decisão
acabou adiada até ele fazer 18. Hoje,
o ator mora com a namorada, a colega Karina
Buhr, 32, que conheceu no teatro. A diferença
de idade, segundo ele, não atrapalha.
“Não dá para ter relação
com gente da minha idade. Vejo as idéias
das menininhas de hoje e penso para onde elas
estão indo. É um outro mundo,
muito diferente do meu”, diz. Definitivamente,
Fredy não é mais o Zequinha.  |