Arrependeu-se?
Arrepender não me arrependo. Disse uma verdade amplamente
conhecida. O sistema político corrompe e avilta. Para
se chegar ao poder, é preciso jogar o jogo, e depois
tentar modificá-lo. Arrependo-me apenas de não
ter perguntado o nome de cada um dos repórteres que
estavam lá na chuva. Provavelmente com raiva por não
terem podido entrar na reunião. Ossos do ofício!
Pode ser que tenham transmitido a íntegra das declarações
mas um editor passou a tesoura, ficou com as frases que dariam
repercussão negativa e desprezou o complemento, minha
condenação às práticas que sujam
as mãos. Não dá! Foi só um jornal
que publicou as frases no primeiro dia. A seguir os outros
foram repercutindo, criando a bola de neve, aumentando a distorção.
A imprensa está precisando refletir sobre si mesma,
os brasileiros precisam discutir as práticas da imprensa,
que não está acima de tudo e todos. Será
que o jornalismo pratica a ética que cobra dos outros?
Então valeu o sofrimento?
Claro que eu não gosto de estar sendo
injustamente acusado de ser inimigo da ética. Claro
que eu preferia estar fazendo meu trabalho, preparando a estréia
de meu filme Cafundó ou descansando com meus
filhos. Em vez disso, gasto energias nesta luta insana, enfrentando
todo o poder da mídia, emprestado a meus difamadores.
Mas quem acreditar que isso possa ter um sentido, que sirva
para alguma coisa. No mínimo, para alguma reflexão
sobre a intolerância e sobre as mazelas políticas
que apontei. Só tomando consciência disso podemos
mudar o sistema, com uma reforma política, com mais
consciência e discussão. Como dizia minha mãe,
“o que não mata engorda”.
Você acha que está
sofrendo a famosa patrulha ideológica?
Não sei que nome tem isso. Sei que está em curso
um movimento para tentar desqualificar os apoiadores do presidente
Lula. Patrulhamento, macarthismo, o nome não importa.
Acho que algumas pessoas podem até ter acreditado mesmo
que eu fui aos repórteres pregar o fim da ética.
Mas, jornalistas tão experientes? De um jornal tão
atento à apuração? Não sei...
Prefiro acreditar que é o calor da campanha. Estava
tudo sem graça, de repente acharam um assunto palpitante.
Demonizar artistas tem seu charme. E, como dizia o ditado,
pimenta nos olhos dos outros é colírio.
Já havia sentido isso
antes?
Já perdi trabalhos por apoiar o PT.
Recentemente, ao prestar solidariedade ao PT, apesar da crise,
perdi o trabalho de mestre-de-cerimônias numa premiação
em Recife. Recebi um e-mail dizendo claramente que foi por
motivos políticos.
O que você acha da crise
ética que se abateu sobre o PT?
Tudo isso irrita, não é? Deixa indignado, com
raiva. Foi doloroso constatar que alguns petistas –
veja bem, alguns, não todo o partido – fizeram
coisas que sempre condenamos na direita e nos partidos do
atraso. Como todo mundo, quero que todos sejam investigados
e julgados, dentro do estado de direito. E não só
os do PT, mas todos, até porque estas práticas
vêm de longe. No “sanguessugas”, entre 72
acusados tem dois petistas. E o esquema começou em
1998.
Qual a sua avaliação
sobre o presidente Lula?
Acho que ele faz o governo que pode, voltado realmente para
os mais pobres. Ele representa este povo no poder, e isso
ajuda a explicar sua sobrevivência política apesar
da crise e do massacre de seu governo. Sou pelo Bolsa Família.
Gosto da atenção que ele dá aos negros
e aos índios. Gosto do Pro-Uni, que tem garantido a
milhares de jovens pobres o sonho da faculdade. Gosto da política
externa, que faz do Brasil um país mais soberano e
respeitado. Gosto da idéia de que a dívida externa
já não é um problema, embora tenhamos
ainda a dívida interna, que através dos juros
suga recursos de outras áreas. Gosto de saber que os
mais pobres, quando entram no supermercado, já conseguem
comprar produtos que apenas contemplavam de olho comprido
nas prateleiras. Pelo que dizem as pesquisas, é isso
que pensa a maioria do eleitorado.
O que você acha de Lula
estar hoje em companhia de políticos sobre os quais
pairam suspeitas, como Marcelo Crivella (candidato ao
governo do Rio pelo PL), Newton Cardoso (candidato
ao Senado pelo PMDB de Minas) e o deputado Jader Barbalho
(candidato à reeleição pelo PMDB
do Pará)?
Não gosto nem um pouco. |