O ator Paulo Betti, 53 anos de idade e 35 de carreira,
tem trabalhado muito nos últimos tempos. Na noite
de 31 de agosto, gravou as últimas cenas do filme
A Grande Família. Nos finais de semana,
viaja pelo Brasil com o musical A Canção
Brasileira, no qual dirige, entre outros atores,
suas duas filhas, Mariana e Juliana. E se prepara para
fazer algo que nunca fez, distribuir, pessoalmente,
seu primeiro longa-metragem, Cafundó,
que estréia no dia 15 de setembro. Sempre que
pode, acha tempo para exercer o papel que mais gosta:
o de pai do pequeno João, de três anos,
seu filho com a atriz Maria Ribeiro. Mas, nos últimos
dias, o que tem ocupado mesmo Paulo Betti é a
repercussão das declarações que
deu em defesa do PT após uma reunião entre
artistas
e o presidente Lula, na casa do ministro Gilberto Gil,
no Rio, no dia 21 de agosto. Indignado, chegou a agradecer
o fato de ter sido procurado por Gente para
se explicar: “Vocês foram os primeiros a
me ligar. Os outros saíram me atacando”,
disse.
O que você quis
dizer quando declarou que “política não
existe sem mãos sujas” e “não
dá para fazer (política) sem
meter a mão na m.?”
Fiz uma constatação. Apontei o que todos
os brasileiros estão cansados de saber. O que
minha avó dizia, o que minha mãe dizia.
O que Sartre disse na peça As Mãos
Sujas, sobre a resistência francesa, se não
me engano. O que Brecht escreveu em quase todas as suas
peças. Disse tudo isso para os jornalistas na
saída da casa de Gil mas só foi publicada
a frase isolada, criando a mentira de que eu defendi
aquilo que estava apenas constatando e rechaçando.
Como alguém pode acreditar que eu defendo o fim
da ética? Nem o político mais corrupto
faria isso. Fui parceiro do saudoso Betinho na Campanha
pela Ética na Política. Participei das
lutas pela democracia. Tenho
uma história. Sou ator e não político.
Não estou sendo acusado,
graças a Deus, em nenhum processo por corrupção.
Por que iria
falar isso sem deixar claro que era contra? Por que
iria cravar em
mim mesmo a marca de amoral?
O que você está
sentindo com a repercussão das declarações?
É doloroso, machuca, revolta. Mas acho que é
ruim também para nossa sociedade, para a democracia.
Caçar bruxas é um esporte autoritário.
O massacre a que estou sendo submetido confirma o que
eu disse: que o jogo político é sujo.
Embora seja impossível não perceber, em
qualquer contexto, que eu estava condenando as práticas
sujas da política, os que estão envolvidos
no jogo político eleitoral valeram-se da minha
frase para reforçar suas posições,
auferir lucro político, sem a menor consideração
para com os danos que estão me causando. Dane-se
o meu direito de defesa, o meu direito à livre
expressão da verdade. O que lhes importa é
que meu nome os ajuda a atingir seus objetivos. Fizeram
gracinhas, frases de efeito, posaram de baluartes da
ética.
As pessoas foram agressivas?
Quem?
Não vou dar nomes, mas um grande jornal, que
não publicou até esse momento a carta
que mandei, disse que sou velhaco, mensaleiro, Marcola
do PCC, sanguessuga, decadente. E fizeram diversos editoriais.
É mole? Mas quando se exagera no ataque, as pessoas
percebem. Muitas pessoas inteligentes, sensatas, de
grande valor, embora nem sendo minhas amigas, estão
se manifestando, percebendo o clima de linchamento.
Chico Buarque disse numa entrevista: “Eu entendi
o que eles (Betti e Wagner Tiso) disseram não
como uma posição pessoal deles, descartando
a ética, mas como constatação
de como a política é feita na realidade
do Brasil. E essa é a realidade política”.
Ainda bem que existe o Chico! Graças a Deus que
o Brasil
tem um artista e intelectual desta grandeza e honestidade.
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