A caminho da Enseada de Botafogo, no Rio, Cláudia
Leitte se impressiona com a multidão. Cerca
de 170 mil pessoas aguardam a presença
da vocalista do Babado Novo no palco montado no
Aterro do Flamengo. Antes de entrar em cena, ela
convoca para uma oração os 23 integrantes
do grupo baiano. Juntos, de mãos dadas
e em voz alta, eles rezam o Pai-Nosso e pedem
perdão pelos pecados. A prática
é recorrente em todos os shows. No Rio,
o público, indócil, clama pela presença
de Cláudia, que aparece de minissaia branca
e leva a multidão ao êxtase. A cena
não poderia representar melhor a consagração
da nova musa da música baiana além
das fronteiras de seu território de origem.
O Babado Novo é o fenômeno do
momento no mundo do axé. Lançado
em dezembro de 2005, Diário de Claudinha,
o quarto álbum do grupo, vendeu 70 mil
cópias em apenas um mês, conquistando
o Disco de Ouro. No ano anterior, UAU Babado
Novo ao Vivo em Salvador já havia
atingido a marca dos 100 mil CDs vendidos (Disco
de Platina) e 70 mil DVDs (DVD de Platina).
A ascensão de Cláudia Leitte e
do Babado Novo começou em 2003, quando
o álbum Sem Vergonha alcançou
a vendagem de 90 mil e concedeu ao grupo seu
primeiro Disco de Ouro. “Cláudia
sempre foi uma aposta certa da Universal Music”,
diz Max Pierre, vice-presidente artístico
da gravadora. “Ela está no início
de uma escalada absolutamente vitoriosa. Passa
doçura e carisma, como Ivete Sangalo.”
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Dona
de um timbre de voz parecido com o de
Ivete Sangalo, ela não nega a referência,
mas deixa claras as diferenças:
"Não sou clone de ninguém.
Não fui concebida em laboratório" |
Ivete concorda: “Cláudia é
bonita, boa cantora e tem ótimo potencial
artístico”, observa, vislumbrando
um longo reinado para a novata. “Acho o
máximo ser uma referência e não
sei qual é a fórmula para alçar
o posto de musa, mas ela está no caminho
certo.” Outra autoridade no Olimpo das estrelas
da música baiana, Daniela Mercury mostra
entusiasmo ainda maior diante do sucesso de Cláudia.
Convidou a cantora para dividir com ela seu trio
elétrico no sábado de Carnaval em
Salvador e, juntas, homenagearão o cinema
nacional. Cláudia virá de Gabriela
e Daniela, de Dona Flor, em referência às
personagens do escritor Jorge Amado. “Dentro
desse gênero, é preciso saber mobilizar
e emocionar multidões, e Claudinha faz
tudo isso com muito talento e competência”,
afirma Daniela.
A cantora cultiva uma imagem que trafega entre
a sensualidade inerente ao axé e a moça
recatada. O guarda-roupa exclusivo dos shows
confere a Cláudia ares de apresentadora
infantil. Ela repele cores berrantes, como o
vermelho, só sobe ao palco com short
debaixo das microssaias e evita modelos transparentes.
“Sensualidade não está no
ato de tirar a roupa e se despudorar”,
diz. “Não faço gestos que
coloquem a mulher como objeto vulgar.”
Leitora assídua da Bíblia, já
se acostumou a ouvir que “é muito
certinha”. Dá de ombros. “Minha
avó diz que a mulher se desvaloriza beijando
qualquer um. Acredito nisso até hoje”,
enfatiza a cantora de 25 anos, que sonha em
ser mãe de três crianças.
Filha do representante comercial Cláudio
de Oliveira Inácio e da professora Ilna
Leite, Cláudia foi uma adolescente que
conviveu com a dúvida sobre o que seria
quando crescesse: música ou advogada?
Aos 13 anos, tirou a carteira profissional na
Ordem dos Músicos de Salvador. Implorava
ao pai que se apresentasse como seu agente.
Pedia a ele para convencer os donos de bares
e trios elétricos a deixá-la dar
uma canja. “Quando levava a Cláudia
para cantar nos barzinhos, as pessoas sempre
me diziam: ‘Compra um trio elétrico
para sua filha. Ela vai se pagar’”,
lembra Cláudio. Aos 18 anos, ela cursou
dois semestres de Direito na Universidade Católica,
mas a vocação artística
interrompeu qualquer plano nesse sentido. Ainda
assim, insistiu no propósito de ter um
diploma. Fez outra faculdade, de Comunicação
Social. No primeiro semestre, conseguiu estágio
como repórter de tevê no Carnaval.
Sua missão: entrevistar Ivete Sangalo
em cima do trio elétrico.
No meio da farra, foliões de um lado
e a repórter do outro, Ivete quis unir
o útil ao agradável e perguntou
se Cláudia Leitte gostaria de dar uma
canja ao seu lado. Era tudo o que Cláudia
queria ouvir. Pegou o microfone e fez o dueto
mais inesquecível da vida. Embora até
hoje seja incapaz de lembrar qual foi a música
cantada ao lado da musa, o episódio a
fez desistir do jornalismo. “Imagina eu,
com alma de cantora, entrevistando Ivete em
pleno Carnaval. Era demais”, lembra ela,
que tentou obter uma formação
clássica, mas foi reprovada quatro vezes
no vestibular para Música na Universidade
Federal da Bahia. Hoje em dia, as semelhanças
com um dos maiores expoentes do axé music
não passam despercebidas. Dona de um
timbre de voz parecido com o de Ivete, ela não
nega a referência. Mas deixa claras as
diferenças. “Não sou clone
de ninguém”, afirma. “Não
fui concebida
em laboratório.”
A fama repentina, porém, tem mostrado
seus revezes. Cláudia ficou irritada
recentemente com os boatos sobre um affair com
Murilo Benício. Durante dias, colunistas
cariocas repercutiram a informação
de que a cantora havia sido vista aos beijos
com o ator pela cidade. Aos beijos ela estava,
sim. Mas com o namorado, o empresário
baiano Márcio Pedreira, no Festival de
Verão de Salvador. Cláudia ri
– e não esconde uma certa irritação
– do equívoco. “Que palhaçada!”,
diz ela, que mantém um diário
online no qual os fãs podem acompanhar
sua rotina. Há quatro meses juntos, Márcio
foi capaz de um feito: fazer Cláudia
perder o mau humor matinal – algo providencial
para quem irá arrastar até 2 milhões
de pessoas pelas ruas de Salvador no Carnaval.
“Ultimamente, vejo até passarinho
azul. O amor é o mais importante de tudo”,
diz ela. “Até a música flui
de um
jeito especial.” 
Produção:
Márcia Montojos. Assistente de produção:Flávia
Young. Agradecimentos: Hotel Glória,
Tritton, Lenny, Colcci, Kilza Ribas, Cavendish
e Santa Cor
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