Com as gravações
no Rio, você tem ficado longe de sua casa, em São
Paulo. Sente falta?
Fico no Rio de segunda a sábado. O Edison me visita
às vezes e a gente mata a saudade, mas de quem mais
sinto falta é da Maria Luiza. O bom é que, no
Rio, estou perto do meu neto. Ele é um personagem típico
de Malhação, está naquela fase
em que não gosta muito de mim (risos), acha
que a avó só dá sermão. Tenho
um sentimento de família muito forte. Estou com o Edison
há 34 anos e o casamento é como uma peça
de teatro. Estreamos e vamos contornando a cada dia, com muita
elaboração, muito trabalho. Conversamos demais,
mas sabemos a hora de ficar em silêncio e de respeitar
o silêncio do outro. O bom de gravar no Rio é
que temos mais tempo para ficarmos quietos, cada um faz suas
coisas. Já aprendemos que estamos lado a lado mesmo
na distância.
Vocês oficializaram o
casamento depois de muito tempo, não?
O Edison preparou um casamento de surpresa no dia do batizado
de meu neto, quando eu completei 50 anos. Um dia, liguei para
casa para falar com a empregada. O Edison atendeu e se atrapalhou
todo. Estava procurando meus documentos para encaminhar ao
cartório e não queria que eu percebesse. Não
podíamos casar na igreja porque eu já havia
me casado uma vez. Ele enrolou, enrolou e teve que quebrar
a surpresa. Sempre vivemos tão bem que nunca me preocupei
com a oficialização. Estava acostumada a fazer
meu imposto de renda e, no estado civil, marcar a opção
“outros”. Demorei a me acostumar com o novo
estado civil.
Seus filhos têm a diferença
de idade de oito anos. Isso influiu
na criação?
Não chegou a ser complicado. Quando eu me liberei de
um, nasceu o outro. Ganhei o Hiram, do meu primeiro casamento,
com 21 anos e o Juliano aos 29. É completamente diferente.
Quanto mais tarde, melhor mãe você vai ser. Eu
não fui uma mãe nem melhor e nem pior que minhas
amigas. Fui a mãe que pude ser, que soube ser. Quando
meus filhos passaram por perigos, eu pensava por que eles
não continuaram eternamente brincando na sala, perto
das minhas vistas, mas isso é a vida. Eles viveram
o perigo e aprenderam.
Você viveu uma fase difícil
com o Hiram por causa das drogas. Como lidou com isso?
Foi um período penoso, muito doloroso. O Hiram foi
um adolescente exemplar e, de repente, esse problema começou
aos 19 anos. Na primeira vez que algo acontece na sua casa,
você lança mão de um repertório
que não vem do conhecimento. Vem da ignorância,
do desespero, da vergonha e dá muita cabeçada.
Ele, hoje, cursa Psicologia e trabalha em uma clínica
de recuperação para dependentes químicos.
A gente faz palestras em clínicas. Ele fala do usuário
e eu do papel familiar. É importante passar para as
pessoas o que eu vivi e quais foram os caminhos. Se deu certo
para meu filho, pode dar certo para outros.
Foi surpreendida mesmo sendo
uma mulher esclarecida?
Se eu fosse uma mulher menos instruída, talvez tivesse
lidado melhor com isso. Pela própria simplicidade,
as pessoas já passaram por outros problemas e reagem
melhor, sentem menos culpa. Eu nunca fui de julgar ninguém,
não sou desconfiada. Qualquer um precisa mentir muito
mal para eu me dar conta de que estou sendo enganada. Meu
filho chegava em casa com os olhos vermelhos e dizia que estava
nadando. Eu acreditava. Quando vou à piscina, meus
olhos ficam irritados. Não fui esperta e a coisa tomou
uma proporção inesperada.
Já experimentou drogas?
Esse é outro problema meu. Julgo os outros por mim.
Nunca usei drogas e achava que meus filhos também não
se interessariam por isso. Considero um crime qualquer coisa
que tira minha lucidez. Eu encaro a lucidez na boa e quer
coisa mais pesada que isso? Preciso ser forte para enfrentar
a lucidez de cara.
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