A cena aconteceu há pouco mais de um ano, quando Ana Hickmann
dava os primeiros passos na Record. A palavra “pentelho”
– uma gíria para chato – foi pronunciada no ar,
em alto e bom som, com toda a naturalidade pela modelo convertida
em apresentadora de um quadro do programa Tudo a Ver, comandado
pelo veterano Paulo Henrique Amorim. A bronca não tardou. “O
Paulo me chamou depois e disse com aquela cara: ‘Você
não pode falar essa palavra porque em outros lugares isso significa
outra coisa’”, diverte-se Ana, ao lembrar do nervosismo
e da insegurança do início. “Hoje preciso pensar
muito mais no que vou falar”, completa ela, que há dois
meses foi promovida e agora comanda o matinal Hoje em Dia,
com o jornalista Britto Jr. e o chef Eduardo Guedes, marido
da apresentadora Eliana. Na atração, ela também
comenta reportagens de moda e comportamento.
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‘Não sabia se ia dar certo,
se o público ia me aceitar, se a emissora ia gostar de mim,
se eu era uma louca. Vim com a cara e a coragem’ |
Com oito anos de sucesso como modelo, a reviravolta pro-fissional
de Ana Hickmann só trouxe boas novas. Ela construiu uma alternativa
à breve carreira nas passarelas, está mais perto da
família e ganha mais. Somados o salário que recebe
da Record (em torno de R$ 120 mil mensais), direitos de imagem,
publicidade e faturamento com merchandising e licenciamentos, ela
embolsa mais do que nos tempos de top – hoje os trabalhos
são esporádicos. A volta ao Brasil também permitiu
que Ana explorasse melhor sua porção empresária.
O primeiro licenciamento com seu nome foi uma linha de sapatos da
Vizzano, em 1999 (ela tem contrato com a grife até 2008).
Hoje, são oito os produtos sob a marca Ana Hickmann, mercado
que movimenta R$ 150 milhões por ano e também inclui
biquínis, óculos, máquinas fotográficas,
jeans e malharias, roupas de fitness, guarda-chuvas e cosméticos
para profissionais.
“Não é que a televisão abriu portas
para Ana. A tevê escancarou. As vendas explodiram. No mês
passado, foram vendidos 140 mil pares de sapatos Ana Hickmann”,
afirma Alexandre Corrêa, 33, marido dela há sete anos
– é ele quem gerencia a carreira de Ana. Se a apresentadora
esbanja simpatia, a empresária é mais agressiva. “Sou
chata, exigente e perfeccionista. Participo de tudo, da parte de
criação e desenvolvimento até a aprovação
final da maioria dos produtos”, diz.
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Ela não fala com o pai
há mais de dois anos: “Somos completamente diferentes. Sou
supercertinha, politicamente correta, e ele nunca foi do mesmo
pensamento”, diz |
Trabalhar na tevê, sonho atual de nove em cada dez modelos,
nunca havia passado pela cabeça de Ana. Por isso, quando
assinou com a Record, ela tinha dúvidas. “Não
sabia se ia dar certo, se o público ia me aceitar, se a emissora
ia gostar de mim, se eu era uma louca. Vim com a cara e a coragem”,
diz ela, que deixou para trás seis anos de carreira em Nova
York. Para o presidente da Record, Alexandre Raposo, Ana já
justificou as apostas da emissora: “Ela é uma estrela
da casa. Vem correspondendo às expectativas e ainda vai evoluir
muito”. A aprovação do público sepultou
de vez as inseguranças. “Televisão é
o que quero fazer para o resto da vida”, afirma. Ana teve
de trocar horários e esquecer velhos hábitos, como
passear no shopping. Só não deixou de ir ao supermercado,
onde o assédio, ela diz, é mais light.
Isto
é Ana Hickmann |
Ídolos: Hebe
Camargo e Oprah Winfrey
De quem não gosta:
George Bush
Filme preferido: E
o Vento Levou
Pior filme que já assistiu:
Reencarnação, com Nicole Kidman
Superstição:
Faço o sinal da cruz antes de entrar no ar ou na passarela
Quando chorou pela última
vez: Ah, choro muito, sou manteiga derretida. Mas
choro escondido, não na frente dos outros |
Voltar a morar no Brasil também possibilitou a Ana ter com
o marido, pela primeira vez, uma rotina de casal. “Agora a
gente consegue jantar juntos, dormir na mesma cama. Alexandre acorda
às 5h30 comigo e prepara meu café enquanto tomo banho.
É meu companheiro do começo ao fim.” Ele também
está feliz por tê-la por perto. “Já cheguei
a ficar quarenta dias sem vê-la. Você tem a impressão
de que a mulher não é mais sua, até o cheiro
dela você esquece. Passam milhões de coisas na sua
cabeça, até que ela poderia estar com outro”,
confessa Alexandre, que não mede elogios à postura
da esposa. “Playboys, trilhardários e esportistas assediaram
minha mulher. O maior mérito de Ana é ter vencido
sozinha, sem precisar namorar um famoso. Ela freqüentou as
altas rodas de Nova York e venceu com seu marido anônimo”,
diz.
Filhos estão nos planos do casal, mas o momento é
de dedicação total ao trabalho. “Tenho só
24 anos. Como pessoa, como mulher, não estou preparada. Adoro
família grande, bagunça. Não consigo ter casa
vazia, não gosto”, diz Ana, a mais velha dos quatro
filhos de João Hickmann e Reni Saath, que estão separados
há 12 anos.
A relação com o pai talvez seja a única má
notícia em tempos tão prósperos. Ana nunca
se deu bem com João – hoje ela prefere nem mencionar
o nome dele – e os dois não têm nenhum contato
há mais de dois anos. “Somos completamente diferentes.
Sou supercertinha, politicamente correta, e ele nunca foi do mesmo
pensamento. Nesse ponto, sempre divergimos bastante”, conta
a apresentadora, que afirma não pensar mais em procurar o
pai para resolver as diferenças. “Já fiz isso
várias vezes e todas deram na mesma. Se um dia a gente tiver
que voltar a se falar, vai ser. Mas enquanto ele não mudar
o posicionamento dele, a maneira de ser, de viver, isso não
vai acontecer.”
Tratamento Fotográfico: Claudio Ishii;
Produção: Camila Cury, Bianca Cury, Patrícia
Nese (Imagem consultoria); Cabelo e make-up: Adilson Vital/Metamorphose
Agência; Agradecimentos: Clube Chocolate, Daslu, Cris Barros,
Estrada da Parada Comercio de Peças, Aparas Villena Ltda