Quatro anos depois de lançar
seu último disco, Gabriel O Pensador está de
volta. O Cavaleiro Andante, sexto álbum do
cantor, já é um dos mais tocados nas rádios
de todo o País. Os criativos refrões do rapper
ecoam nas vozes de crianças, jovens e adultos. No novo
trabalho, ele fala de injustiças, amor e vida, utilizando
batidas de funk e beats eletrônicos. “Esse disco
foi diferente dos outros porque trabalhei a maioria das letras
no improviso”, conta ele, acomodado no sofá de
sua espaçosa casa pendurada em um dos morros de São
Conrado, no Rio. Aos 31 anos, casado há 9 anos com
Ana Lima e pai de Tom, de 3 anos, e Davi, de 3 meses, Gabriel
recebeu Gente, de pés descalços,
no entardecer de uma sexta-feira para revelar muito além
de um raro talento musical.
Seu CD inclui Carlos Drummond
de Andrade, Legião Urbana, Vinicius de Moraes e Tim
Maia. Por que essa escolha?
A idéia de homenagear a canção “Pais
e Filhos”, do Legião Urbana, já estava
no projeto. Os outros surgiram durante o processo de composição,
como “Bossa 9” (construída a partir
de “Garota de Ipanema”, sobre o desencanto de
uma geração e a transformação
do Rio de Janeiro). Eu estava sozinho no estúdio,
em Nova York, de madrugada, ouvindo os grooves de base quando
pintou a idéia de bater um papo com Tom e Vinicius.
Assim surgiu a música.
A inspiração costuma
vir de madrugada?
Rendo muito de madrugada. Com os versos do Drummond aconteceu
algo semelhante. Não sabia que tema ia sair daquela
batida. Falei sobre uma pedra, a pedra virou diamante... É
assim que crio. Não tem nada
de mirabolante.
Em que momento as idéias
vêm mais facilmente?
É comum eu acordar de manhã com alguma idéia
que trago do sonho, seja um tema ou uma rima. Há um
lado misterioso no ato de compor que acho bacana.
Você diz que o fato de
ser O Pensador tem tudo a ver com seu jeito de parar e ficar
viajando. Em quê?
Pô, em tudo. Ainda mais quando tenho insônia,
o que é muito freqüente. Mas não penso
só sobre coisas importantes. Sou meio maluco, ansioso.
As idéias vêm na hora errada, fico querendo anotar.
Costumo viajar nas coisas da vida. Não sei dizer exatamente
em quê. Acho que em tudo.
Você nasceu na elite,
mas boa parte de suas canções só encontram
paralelo em músicos oriundos de favelas e minorias.
De onde vem essa identificação?
Eu tinha 12 anos quando me mudei com minha mãe (a
jornalista Belisa Ribeiro) para São Conrado. Com
o lance da praia e do surfe, fiz grandes amizades na Rocinha.
Meu melhor amigo era negro, e eu sofria na pele o preconceito.
Quando íamos ao shopping, éramos barrados pelos
seguranças. Situações como essa proporcionaram
uma preocupação social que acabou refletindo
na carreira.
Sua mãe não se
preocupava com você na Rocinha?
Minha mãe era liberal. Me deixava livre para pegar
onda, andar de skate e bicicleta com meus amigos. Eles freqüentavam
minha casa. Existe o preconceito da favela, da droga, mas
ela via que meus amigos eram uma galera do bem, que gostava
de esporte. Confiava neles.
Você não teve a
fase adolescente rebelde?
Fiquei rebelde quando me mudei, aos 15 anos, para a Barra
da Tijuca. Não gostava daquele estilo de vida de playboy,
das festinhas de marombeiros, das brigas de um condomínio
contra o outro, da porrada gratuita. Gostava da Rocinha, onde
a gente se divertia de um jeito mais moleque. Minha revolta
com a Barra me fez um pichador de muros em potencial. Até
na delegacia fui parar.
Foi nessa época que você
escreveu “Lôrabúrra”?
Foi uma das minhas primeiras canções compostas
na Barra da Tijuca. O lado bom de ter morado lá é
que comecei a me introduzir mais no universo musical, conheci
outros rappers. Passei a levar a música a sério.
A música me salvou (risos).
|