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Tavares: motivações não são conscientes |
Apesar de sempre causar muita curiosidade, cleptomania é
uma doença pouco estudada, mal compreendida e cercada de
preconceitos. Recentemente em nosso meio ela vem recebendo atenção
e despertando a curiosidade da população por causa
da personagem interpretada por Christiane Torloni em uma telenovela.
Em psiquiatria, Cleptomania é classificada como um transtorno,
uma falha em resistir ao impulso de furtar objetos que não
são necessários, nem são cobiçados por
seu valor monetário. O furto não é cometido
por vingança, desejo de retaliação, ou para
obtenção de qualquer vantagem e o paciente em geral
não sabe explicar por que sua escolha por determinado objeto,
ou por que o impulso aflorou naquele instante. Portanto, suas motivações
não
são conscientes.
Observa-se que os objetos furtados em geral são de pequeno
porte, sem valor financeiro, mas que podem ter um valor emocional
ou estar identificados ao proprietário. Por exemplo: uma
caneta; uma bijuteria velha, porém incomum; etc. Lojas de
departamento e estabelecimentos comerciais também se encontram
entre as vítimas preferenciais de um cleptomaníaco.
Nesses lugares, os objetos mais comumente furtados são embalagens
pequenas e brilhantes que atraem o olhar. Cosméticos e bombons
estão entre os mais visados e, porque entre os cleptomaníacos
predominam as mulheres, também existe uma preferência
por peças do vestuário feminino, lingeries e tudo
que se relaciona à identidade feminina.
É difícil determinar a freqüência desse
comportamento na população, ou traçar o perfil
do cleptomaníaco, por conta da culpa e vergonha que cercam
o problema. Também não ajudam a cobertura sensacionalista
e a exposição demasiada na imprensa dos raros casos
que vêm a público – basta lembrar o caso da atriz
Winona Rider. O transtorno acomete predominantemente mulheres, sendo
que os primeiros sintomas se manifestam em geral na segunda metade
da adolescência, ou início da vida adulta.
O cleptomaníaco raramente busca auxílio para o seu
problema de perda de controle e quando isso acontece, em geral é
determinado pelo estresse emocional e muitas vezes o paciente não
confessa a verdadeira causa de seu desconforto.
Habitualmente cleptomania está associada a transtornos
depressivos e ansiosos, complicações legais e má
qualidade de vida. Seu tratamento inclui medicações
para os outros transtornos emocionais associados e psicoterapia
para o transtorno do impulso. Algumas medicações têm
sido investigadas para auxiliar no controle do impulso, mas nenhuma
ainda foi confirmada como particularmente eficaz em cleptomania.
Mais estudos são necessários para um melhor conhecimento
desse transtorno, mas isto somente será possível quando
os pacientes sentirem-se seguros o suficiente para buscarem ajuda.
É mais provável que isto aconteça quando a
sociedade compreender que, de todos, o maior prejudicado pelos furtos
é o próprio cleptomaníaco.
* Hermano Tavares é psiquiatra,
psicoterapeuta e coordenador do Ambulatório dos Impulsos
do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo
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Pílulas
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» Roubo de dinheiro não
é sintoma de cleptomania. Assim como objetos
de valor cujo roubo tenha uma intenção
financeira
» Recomenda-se à família não
flagrar o paciente. Pego no ato do furto, ele irá
reagir de forma defensiva. O ideal é conversar
depois e oferecer ajuda
» A família também não deve
acobertar a pessoa. Deve-se pagar por um furto ou por
um roubo flagrado numa loja. Do contrário, o
paciente não se sentirá motivado a procurar
ajuda
» É difícil falar em cura, mas
existem casos de pacientes que melhoram e têm
remissão completa
dos sintomas |
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