Vanessa
da Mata sabe que é poderosa, mas sempre precisou
de aval para seguir adiante. A beleza rara, fruto de uma
mistura de negros e índios, foi colocada à
prova quando, aos 16 anos, se inscreveu num concurso de
modelo. Com seu 1,80 de altura e traços marcantes,
ficou entre as 20 finalistas de um total de 10 mil candidatas.
Sempre fui muito diferente do padrão de beleza.
Queria provar para mim mesma que era bonita, conta
ela. Mas nunca levei a carreira de modelo a sério.
Trocava os castings por chocola-
te e ensaios com a banda. Não demorou para
trocar a passarela pelo palco. A meteórica carreira
no mundo da moda a levou para São Paulo em 1992.
Filha de um fazendeiro e de uma professora, Vanessa já
havia deixado a pequena cidade mato-grossense de Alto Garças,
de oito mil habitantes, aos 14 anos, para viver em Uberlândia
sob o pretexto de que estaria se preparando para estudar
Medicina. Mas o que fazia mesmo era cantar nos bares da
cidade mineira.
Tanta precocidade revelaria ainda uma outra paixão.
Aos 18 anos, Vanessa começou a compor, mesmo sem
saber tocar nada. Hoje, aos 28, contabiliza mais de 250
composições e ainda nenhum instrumento em
seu currículo. Se aprender agora a usar o violão,
vou começar a simplificar as harmonias ou limitar
as melodias, o que vai me empobrecer, justifica ela,
que conta com o parceiro Swamy Jr. para musicar suas idéias.
Chico César é outro criador das melodias das
letras de Vanessa e uma espécie de padrinho. Ela
foi atrás do músico paraibano e assim que
ele ouviu o trabalho de Vanessa tornaram-se parceiros. Chico
César musicou A Força Que Nunca Seca,
canção que resolveu mandar para Maria Bethânia.
A cantora baiana não só gravou a composição
da dupla como a transformou em título de seu álbum.
Depois de Bethânia, achei que estava no caminho
e que não era uma alienação fazer uma
letra torta e estranha como aquela, afirma Vanessa,
que teve ainda a bênção de Baden Powell,
três meses antes da morte do músico em setembro
de 2000. Foi um momento lindo porque estava insegura
como cantora. Iríamos cantar uma música e
ele, ranzinza e exigente como todo bom músico, ficou
cismado, lembra. Na passagem de som, o violonista
encantou-se com a voz da novata e a presenteou com parcerias
em outras músicas no show.
A
garotinha de cabelos enrolados, que pouco sabia de música
e se encantava com a afinação dos instrumentos
no salão paroquial antes dos raros bailes que aconteciam
em sua pequena cidade natal, venceu a insegurança
e provou ser uma estrela de primeira grandeza. Já
dividiu a voz afinada com Daniela Mercury, Caetano Veloso
e Milton Nascimento. Também se apresentou em Portugal
e na Inglaterra e fará outra turnê européia
este ano. Enquanto isso, ocupa-se com os muitos shows pelo
País e com a elaboração do seu segundo
disco, que sai em julho. Ainda sobra fôlego para dar
uma canja em horário nobre. Vanessa e sua banda irão
se apresentar no fictício Espaço Fama da novela
Celebridade, na qual participa da trilha sonora com Nossa
Canção, música de Luiz Airão
que ficou famosa na voz de Roberto Carlos.
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