Resumo
do capítulo 1, 2 e 3:
A paixão pelo futebol – que o levou a atuar num Fla-Flu – e o gosto
pela boemia de Oscar Niemeyer deram lugar à vida profissional do
arquiteto a partir de seu casamento com Annita Balbo. Formado em
1934, Niemeyer mesclava o início da carreira, ao lado de Lúcio Costa,
com comícios do PCB. A projeção veio após conhecer Juscelino Kubitschek
e fazer o bairro da Pampulha, em Belo Horizonte, e Brasília. Entre
as duas obras, o arquiteto conheceu o líder comunista Luís Carlos
Prestes e venceu o gênio Le Corbusier na disputa para projetar a
sede da ONU. Mas o golpe militar de 1964 se encarregaria de levar
momentos de tristeza à sua vida..
Brasília
já tinha sido inaugurada havia três anos quando, antes
de partir para uma temporada no Exterior, Oscar Niemeyer se encontrou
com o amigo Darcy Ribeiro. Na despedida, foi saudado com otimismo
pelo antropólogo, que não escondia a euforia com a
linha de esquerda adotada pelo então presidente João
Goulart. “Estamos no poder, Oscar”, saudou Darcy. Mas
o ânimo durou pouco. O arquiteto ainda estava na Europa quando
estourou a revolução que instaurou a ditadura militar
no Brasil. Depois de passar um mês em Paris, Niemeyer recebeu
em Lisboa a notícia do golpe, dias antes de partir para Israel,
onde ficaria seis meses.
Hospedado
no Hotel Victória, o arquiteto passou os últimos três
dias na capital portuguesa com o ouvido colado ao rádio,
na expectativa por qualquer boa notícia. Com a confirmação
da queda de Jango, foi para Israel sem esconder a tristeza. Durante
os seis meses em que trabalhou em Tel Aviv, recusou qualquer convite
para festas. “Parecia-me que, aceitando os convites, estaria
traindo aqueles que no Brasil enfrentavam a opressão e a
violência”, justifica.
No
Brasil, o escritório do arquiteto no Rio de Janeiro foi invadido
e a revista Módulo, que Oscar fundara em 1955, deixou
de circular. “Quebraram tudo. Quando voltei tive de prestar
contas”, diz ele, que não chegou a ser preso, mas foi
interrogado algumas vezes pelas forças da repressão.
Em uma delas, numa pequena sala acolchoada e na companhia de um
escrivão e um policial encarregado do interrogatório,
Niemeyer não dispensou a ironia nas respostas.
–
Senhor Niemeyer, o que vocês comunistas querem?
Mudar a sociedade? – perguntou o policial.
– Escreve aí, mudar a sociedade – respondeu o
arquiteto, virando-se para o escrivão e provocando uma reação
desanimada dos policiais.
– Vai ser difícil – disse o escrivão,
com ar de desalento, ao policial que fazia as perguntas.
O
interrogatório não passou disso, mas não devolveu
a paz que o arquiteto precisava para trabalhar no Brasil. A solução,
então, foi aumentar o número de projetos no Exterior,
como o da Universidade de Constantine, na Argélia, em 1969,
onde Niemeyer manteve o hábito de levar os amigos misturados
com colegas de trabalho. “Tivemos de recrutar às pressas
profissionais disponíveis para acompanhá-lo e montar
um escritório lá, e todos, de preferência, tinham
de ser amigos do Oscar”, diz João Filgueiras, que na
época trabalhava com Niemeyer. Darcy Ribeiro apareceu e ficou
uns meses por lá, junto com Luiz Hildebrando Pereira da Silva,
médico do Instituto Pasteur (na França) que também
nada tinha a ver com arquitetura. “Foi um tempo bom”,
resume Niemeyer.
Feliz
durante a estadia na África, Niemeyer pôde elaborar
um de seus projetos prediletos. Sem a importância histórica
de obras como Brasília e a sede da ONU, em Nova York, a Universidade
de Constantine tem até hoje lugar reservado na memória
do arquiteto. “O projeto não é bom porque é
monumental, mas porque nele estabelecemos uma série de princípios.
Ali reduzimos o número de prédios de vinte para sete,
facilitando a circulação dos alunos e tornando a universidade
mais versátil”, lembra.
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