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Jeferson
De prepara seu primeiro longa,
que participou do laboratório de Sundance
e deve ser rodado no início do ano |
Sentado
no banco de trás do Fusca, o menino tem a seu lado um projetor
de cinema. Seu pai percorre nos fins de semana os 18 quilômetros
que separam a cidade paulista de Taubaté da vizinha Caçapava,
com a tarefa de buscar o projecionista que exibe filmes no clube de
funcionários da fábrica onde trabalha como torneiro
mecânico. Nasce ali a paixão de Jeferson Rodrigues de
Rezende pela sétima arte, confirmada mais tarde, quando ele
troca a faculdade de Filosofia pela de Cinema.
Jeferson
De ainda não se formou. Mas seu segundo curta-metragem, Carolina,
sobre a escritora favelada Carolina de Jesus, recebeu três
Kikitos no Festival de Gramado. Foi incrível, porque
tanto o André Szajman, dono da gravadora Trama, quanto o
rapper Mano Brown, dos Racionais, falaram a mesma coisa: esse filme
tem que ser feito, conta Jeferson, 35 anos, agora membro do
Conselho Paulista de Cinema, que vai ajudar a estabelecer diretrizes
para a atividade. Todo mundo fala em diversidade. Eu sou a
diversidade, diz.
Jeferson
defende um cinema feito e protagonizado por negros, mas que não
se prenda à violência. Carandiru, Cidade
de Deus, Uma Onda no Ar, Madame Satã, O
Homem Que Copiava são filmes com negros como protagonistas,
o que me alegra, diz. Por outro lado, fico triste, porque
em todos o negro aparece segurando uma arma, afirma. Por causa
das idéias, Jeferson é comparado a Spike Lee. Adoro
basquete, usar boné e tênis Nike, diz. Mas
não dá para pegar o que ele faz lá para fazer
aqui. A situação não é a mesma,
completa. Por coincidência, Trey Ellis, roteirista de um filme
produzido por Spike Lee, é o consultor do roteiro do primeiro
longa de Jeferson, Um Dia, que participou do laboratório
do Instituto Sundance e deve ser rodado em 2004. Está
na hora de virar gente grande, diz. Ficou para trás
o garotinho que viveu uma história à la Cinema
Paradiso. 
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