‘Le
Corbusier foi importante, mas os traços dele eram diferentes, mais
pesados. Ele fez o poema do ângulo reto. Eu, ao contrário, fiz a
poesia da curva ’
Oscar Niemeyer
Gente Fora de
Série
Oscar
Niemeyer
Capítulo 2
Os primeiros passos na carreira Um
pouco antes de participar de seu
primeiro comício do PCB, o arquiteto fez
estágio, sem remuneração, no escritório
de Lúcio Costa, foi designado para ajudar o gênio Le Corbusier na
obra do prédio do Ministério da Educação, no Rio, e depois o derrotou
no projeto da ONU, em Nova York
por Luís Edmundo Araújo
Resumo
do capítulo 1
Depois de passar a infância jogando futebol – chegou a
atuar num Fla-Flu no Estádio das Laranjeiras –, Oscar Niemeyer aproveitou
a juventude na boemia carioca. O casamento com Annita Baldo marcou
o fim das noitadas. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes, onde
se formou engenheiro arquiteto, em 1934, e pouco antes de concluir
o curso fez estágio num escritório de arquitetura.
Com
Lúcio Costa, seu primeiro patrão
Ele nem
tinha concluído o curso de engenheiro arquiteto e já
era pai. Anna Maria, sua única filha, nasceu em 1932. Mas as
dificuldades financeiras de quem passou a sustentar uma família
ainda antes de completar os estudos não impediram que Oscar
Niemeyer levasse adiante os planos traçados para a própria
carreira. Deixou de lado o exemplo da maioria dos colegas de faculdade
– que a partir do terceiro ano de curso estagiavam em firmas
construtoras em troca de um salário – e preferiu trabalhar
de graça no escritório do arquiteto Lúcio Costa,
na época já considerado um dos melhores do País.
“Queria aprender o lado bom da arquitetura”, justifica
Niemeyer. Quando conheceu o primeiro patrão, vivia do aluguel
de uma outra residência, pertencente à prima Milota,
e morava numa pequena casa de avenida movimentada, bem menor do que
o sobrado do avô Ribeiro de Almeida onde nascera, em Laranjeiras.
Para
conseguir o emprego, obteve uma carta de apresentação
com um conhecido de Lúcio e bateu na
porta do ateliê que o futuro colega dividia com o arquiteto
Carlos Leão, na Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro.
“Não conhecia o Lúcio até esse dia, só
sabia que
ele era um bom arquiteto”, conta Niemeyer, que, para trabalhar
de graça, conseguiu o estágio sem maiores problemas.
“Para mim foi muito útil, porque o grupo que trabalhava
ali era muito bom”, lembra.
Além
de marcar o início de sua vida profissional, a Avenida Rio
Branco também foi palco, na mesma época, do começo
da aproximação do jovem Oscar com a ideologia comunista.
Foi ali, em frente à antiga Galeria Cruzeiro, que Niemeyer
participou pela primeira vez de um comício do PCB (Partido
Comunista Brasileiro), ao lado de companheiros de ideologia como
o jornalista João Saldanha.
Era o
início dos anos 30, quando o então presidente Getúlio
Vargas recrudescia no autoritarismo que desembocaria no Estado Novo.
Não é de se admirar, portanto, que o jovem arquiteto
acompanhasse o comício com um olho no palanque, onde veteranos
comunistas como Astrogildo Pereira discursavam, e outro na cavalaria
da polícia, que acompanhava a manifestação. Apesar
da tensão, tudo corria normalmente até a chegada de
um carro com policiais à paisana. “Pensei que era gente
do partido, mas eles saíram dando tiro para o alto”,
conta Oscar. Na confusão que se seguiu, com os participantes
do comício correndo para todos os lados, Niemeyer, Saldanha
e outros companheiros do partido refugiaram-se num café de
esquina até que o tumulto acabasse. O comportamento garantiu
a integridade física do grupo, mas provocou, no dia seguinte,
uma repreensão do pai de João Saldanha, o socialista
radical Gaspar Saldanha que, ao saber do ocorrido, vaticinou sem titubear:
“Vocês deviam ter ficado atrás de um bonde e resistir”.