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Ela
conta com uma equipe de 18 funcionários do Ministério da Justiça
que assistem a todos os programas dos canais abertos das 6h
às 20h
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Gugu
Liberato que se cuide. Se não andar na linha daqui para frente
será obrigado a esquecer as tardes de domingo e a apresentar
seu programa depois das 21h. A determinação é
da Secretária Nacional de Justiça, Cláudia
Chagas, 40 anos, a mesma que há dois meses mudou o horário
da novela das oito da Rede Globo para depois das nove
por excesso de violência e sexo. “Recebemos muitas reclamações
de telespectadores sobre as cenas de sexo na novela”, conta.
Agora ela está de olho no Domingo Legal do SBT. Logo
após a veiculação da entrevista dos falsos
integrantes da facção criminosa PCC, com ameaças
a apresentadores de outras emissoras e ao vice-prefeito de São
Paulo, Hélio Bicudo, no programa do Gugu Liberato, no domingo
7, Cláudia mandou advertência à emissora de
Silvio Santos, que tem até o dia 12 de outubro para se explicar.
“É inadmis-
sível que a tevê seja usada para transmitir programas
com conteúdo criminoso”, disse
ela. “Foi lamentável (a exibição da
entrevista), principalmente no momento em que a sociedade se
une contra o crime organizado.”
Gugu
já pediu desculpas publicamente a todas as pessoas citadas
na entrevista veiculada em seu programa. Ainda assim, as ações
contra ele estão se multiplicando em várias instâncias.
As medidas tomadas por Cláudia, porém, têm eficácia
imediata. E as emissoras já conhecem bem o poder dessa promotora
pública que assumiu o cargo de Secretária Nacional
de Justiça no início do governo Lula. “Tratar
da reclassificação é um assunto muito delicado,
pois a nossa constituição proíbe a censura.
Por outro lado, é dever do Estado cuidar do bem-estar da
família, da criança e do adolescente”, diz ela.
Por
isso, ela não se intimida. Além de mudar o horário
de Mulheres Apaixonadas, que costumava entrar no ar pouco
antes das 21h, Cláudia conseguiu diminuir a violência
em Kubanacan. Segundo ela, a novela das sete estava exagerando.
“Temos que pensar no Brasil como um todo. Muitas crianças
ficam em suas casas sem a presença dos pais nesse horário”,
afirma. Apesar do cargo que ocupa, ela mantém uma boa relação
com as emissoras. O segredo para ela está numa palavra: diálogo.
“O grande acordo é ter um limite na programação.
Não se pode baixar tanto o nível e todas as emissoras
têm sido receptivas, mas claro, estão sempre de olho
na audiência, o que é um problema”, diz.
A
Secretária Nacional de Justiça não diz quais
programas considera os piores, mas dá dicas: “São
aqueles apelativos que mostram brigas familiares”, diz, sem
citar as atrações da tarde. Para monitorar todos eles,
Cláudia conta com uma equipe de 18 funcionários, no
Palácio da Justiça, que assistem a todos os canais
abertos das 6h às 20h. Mas o público é o maior
termômetro. Desde maio desse ano, o Ministério da Justiça
recebeu mais de 400 reclamações, sobre os conteúdos
dos programas de televisão. Pela ordem, as maiores reclamações
se referem aos programas vespertinos como a Hora da Verdade,
da Bandeirantes, apresentado por Márcia Goldschmidt, e o
Canal Aberto, da Rede TV!, apresentado por João Kleber,
que têm como foco brigas familiares, teste de fidelidade conjugal
e de DNA. Só 10% das reclamações se referem
às telenovelas.
Casada
com o promotor de Justiça Roberto Carlos, Cláudia
tem dois filhos, Thomaz,
12 anos, e Elisa, 10, do primeiro casamento. Quando está
em casa seu hobby é assistir a um bom filme na tevê
– ela evita outros programas. Para os filhos ela impõe
regras: “Converso com eles sobre o que não se deve
assistir na tevê e explico o porquê, e
eles obedecem”, garante. 
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