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Carla
só volta a filmar
no ano que vem: “São
10 semanas trabalhando
14 horas diárias, uma folga semanal. Não é
o momento”
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Carla
Camurati, 43 anos, jogou no mundo dois rebentos praticamente ao mesmo
tempo. Depois de dois anos de trabalho, ela vê chegar às
telas o 1º Festival Internacional BR de Cinema Infantil, que
passou pelo Rio, Porto Alegre e Brasília e chega a São
Paulo, com 10 filmes de diversos países. No colo, ela carrega
o pequeno Antônio, de quatro meses, fruto de seu casamento com
o também diretor de cinema João Jardim, 39. “Ele
é um bebezão. É o menino dos olhos azul-marinho”,
define, orgulhosa. Ser mãe pela primeira vez depois dos 40
não assustou a carioca Carla Camurati, uma mulher que já
demonstrou ser corajosa. Atriz reconhecida no cinema e no teatro,
símbolo sexual da Globo nos anos 80, ela largou tudo para ser
diretora e produtora de cinema. Com Carlota Joaquina, Princesa
do Brazil, levou quase 1, 3 milhão de pessoas às
salas de exibição em 1995, uma época em que coisa
fora de moda era ver filmes brasileiros, e se transformou em uma das
responsáveis pela retomada da produção nacional.
Hoje, com outros dois longas-metragens no currículo, Carla
vai se desafiar novamente. No ano que vem, promete adaptar a peça
O Mistério de Irma Vap para o cinema com os mesmos Marco
Nanini e Ney Latorraca que a consagraram no teatro. “Nesse ano,
não dava para encarar uma produção. Afinal, já
tenho três filmes e só um filho”, diz ela.
Organizar
o Festival Internacional BR de Cinema Infantil tem a ver com a recente
maternidade?
A idéia surgiu quando assisti a um festival de filmes infantis
em Estocolmo em 2001 e vi que no Brasil não tinha nada parecido.
O Antônio pintou no meio do caminho. O festival já
estava sendo tocado quando engravidei.
Você
planejava ser mãe há muito tempo?
Queria ter filhos. Desde sempre, mas também nunca tive pressa.
As coisas acontecem no seu tempo. Quando pequena, dizia que queria
ter filhos mais velha. Minha mãe me ganhou com 17 anos. Como
toda filha antagônica, polarizando com a mãe, pensava
em ter filho bem mais tarde. Nossa relação sempre
foi boa, mas achava que minha mãe tinha perdido um pouco
da vida dela ao me ter tão nova. É bom saber equilibrar
isso, não se atropelar. Mas eu não vou ficar fazendo
confissões sobre meus sentimentos. Para o meu analista, isso
já é difícil. A intimidade me incomoda. Sou
introspectiva. Posso falar sobre o como é ser mãe.
Então
como é ser mãe?
É uma relação muito especial. É tão
bonito ter um bebê, viver o cotidiano de um bebê. Essa
convivência é deliciosa. Filho vai tendo várias
idades, mas essa fase é única e muito especial. Dimensionar
o que realmente significa isso é uma coisa de que a gente
só se dá conta ao longo da vida.
Você
ficou quanto tempo sem trabalhar depois do parto?
Fiquei os dois meses iniciais e voltei a trabalhar na produtora
faz um mês e meio, bem aos poucos. Era o princípio
da amamentação. E, nos primeiros meses, não
dá para ficar saracoteando, passar fora de casa. Na minha
produtora tem um jardim. O Antônio pode ir comigo para lá
e pegar um sol, dar uma volta na praça próxima.
Como
foi sua preparação para ser mãe?
Fiz todos os cursos que se pode imaginar para entender o
que é um bebê, desde o mais útil até
o que pode parecer inútil. E isso muda a relação
com o bebê. Muitas mães se chocam com a criança
porque não estão preparadas para entendê-la.
Li tudo. Tem uma série de coisas para decifrar. Bebês
não falam, não sabem estabelecer códigos de
comunicação. Quis me preparar para saborear esse momento.
Se não, a vida pode virar um inferno.
E
você está aproveitando ao máximo isso?
As pessoas dizem que uma mãe nunca mais consegue dormir, que
tudo fica difícil. Não estou achando nada difícil.
Pelo contrário, tudo está mais bom do que difícil.
Entender esse universo torna a experiência mais saborosa. A
vida é tão rápida, tudo tão efêmero,
por isso é importante viver cada fase. Já me peguei
não aproveitando certos momentos. E vejo muitas pessoas deixando
passar momentos legais. A gente se divide muito e deixa de viver aquilo
que seria o mais saboroso.
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