Na
belíssima capa do 39º disco de Maria Bethânia,
Brasileirinho, há a pintura de uma índia
sentada na mata, ao lado de uma onça. A imagem traduz
o conteúdo do CD, que inaugura o selo da cantora,
Quitanda. Bethânia mescla músicas inéditas
e jóias antigas do cancioneiro nacional para inventariar
a formação
do Brasil. “Pátria é acaso de migrações”,
diz um verso de “O Poeta Come Amendoim”, texto
de Mário de Andrade recitado pela atriz Denise Stoklos
no CD.
Bethânia sintetiza com maestria, em 12 músicas,
os pilares da sua pátria – “Brasil que
eu amo porque é o balanço das minhas cantigas,
amores e danças”, como resume o texto de Mário
de Andrade dito por Stoklos. A contribuição
indígena está explicitada já na música
que abre o CD, “Salve as Folhas”, regravada
pela cantora num raro falsete, com o instrumental do grupo
Uakti. A imensa participação africana transparece
nos sambas “Yayá Massemba” e “Capitão
do Mato”.
Baseado na sonoridade do violão e da percussão,
o CD está pontuado também pela religiosidade
da cantora, seja na inclusão de pontos de umbanda
que saúdam os orixás, seja no tributo aos
santos da Igreja Católica em “Santo Antônio”
(belo samba baiano de J. Velloso, sobrinho de Bethânia),
em “Padroeiro do Brasil” (ode a São Jorge
gravada com o grupo de choro Tira a Poeira) e em “São
João Xangô Menino”. Entre textos de Guimarães
Rosa, há canções de acento ruralista
(“Cigarro de Paia” e “Sussuarana”,
toada de 1928, gravada em dueto com Nana Caymmi). E o CD
termina com a “Melodia Sentimental” de Villa-Lobos,
pilar máximo do cancioneiro nacional.
Pátria grandiosa
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