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Ele
tem uma relação distante
com o pai: “Há dois anos não
nos falamos. Não estamos brigados, mas nenhum dos
dois telefona para o outro” |
Giba chegou
para entrevista à Gente com os cabelos ainda
molhados. Tinha acabado de
sair do banho e, na pressa, esqueceu de colocar a aliança de
noivado. Foi salvo pelo amigo Ricardinho, que lhe entregou
a jóia antes que a sessão de fotos começasse.
Como
encarou a suspensão por doping?
Foi uma porrada boa. Comecei a rever meus conceitos, passei a ver
as coisas de maneira diferente. Coloquei na minha cabeça
que Deus não me dará mais chances, já me deu
muita. Agora é pensar não duas vezes, mas dez, antes
de tomar uma decisão, fazer alguma coisa errada. Se tivesse
pensado nas conseqüências, não teria feito. Estou
arrependido, com certeza.
O
que o levou a fumar maconha?
Estava com vários problemas pessoais. Tinha me separado havia
pouco tempo, estava distante da minha família, morando sozinho
em Ferrara, com dois metros de neve na varanda, cinco graus abaixo
de zero, e ainda descobri um problema na tireóide, cujo tratamento
tanto pode me fazer engordar dez quilos como emagrecer mais ainda.
Um conhecido da cidade me ligou chamando para dar uma volta. E aconteceu.
Foi a primeira e única vez. No Brasil, existe
até mais oportunidade, mas sempre pensei: “Por que
vou jogar minha carreira fora fazendo uma coisa errada?”
Naquela hora, no entanto, não pensei nisso.
No
que pensou ao fazer o exame?
Fiquei bastante atormentado. Pela minha cabeça passou tudo
e nada. Pensei que poderia ter dado alguma coisa tanto que no mesmo
dia liguei para o Ricardinho (jogador da seleção),
que estava no Brasil. Conversamos bastante e ele me acalmou. Estamos
juntos há dez anos e há três dividimos o mesmo
quarto na seleção. Ligo para ele a qualquer hora,
sempre que estou sozinho e preciso conversar.
E
quando o resultado foi divulgado?
Pensei: “Minha carreira acabou. O que vou fazer se não
puder jogar mais?”. Mas tive o apoio de todo mundo. Em momento
algum tive problemas com meu patrocinador, a Olimpikus. Existe uma
cláusula de rescisão no meu contrato, mas eles não
a usaram. O presidente da Confederação Brasileira
de Vôlei, Ary da Graça, ficou do meu lado, assim como
o Bernardinho e os meus colegas. Até por isso, não
tive medo de ser cortado da seleção.
Como
foi enfrentar o Bernardinho?
Fora de quadra, ele é completamente diferente. Não
fiquei envergonhado nem com medo de falar com ele. Ele me ligou
um dia depois que saiu o resultado e me deu uma bronca. Disse: “Você
já é bem grande para saber que fez a coisa errada,
mas não vou te dar esporro publicamente. Estou do seu lado
para o que der e vier”.
Ficou
deprimido durante a suspensão?
Não. Pensei que tinha feito a coisa errada e estava
pagando por isso. Mantive a rotina normal, treinava
com o time, só não jogava. É como você
estudar
durante quatro anos e não ir à formatura.
Acha
que sua imagem ficou arranhada?
Todo mundo me falou que isso ia acontecer, mas acho
que a imagem que construí até esse episódio
falou mais
alto. Quando cheguei no Brasil, a primeira frase que escutei foi
de uma senhora de 75 anos e de uma criança de 12: “Rezei
muito para você ficar bem e voltar logo”. Isso me deu
tranqüilidade e paz. É claro que fui alvo de brincadeiras.
“E aí, quer unzinho?”. Isso escutei de monte.
Mas é passado,
já paguei e vou continuar sendo a mesma pessoa de
sempre. Nem penso mais nisso.
Você
já passou por outras situações difíceis.
Como venceu a leucemia?
Os médicos me desenganaram. Não contaram para a minha
mãe que era leucemia, só para o resto da família.
Para ela, disseram que era deficiência de ferro. Então
ela me dava vitamina de espinafre, mamadeira de tomate, cenoura.
Quando fui internado, ela chamou uma senhora para me ver. A senhora
mandou todo mundo sair do quarto, rezou muito e pediu para Deus
mostrar a ela se eu ia ficar bom. Ela disse que viu todas as minhas
veias brancas começarem a ficar vermelhas. A senhora agradeceu,
saiu do quarto e disse à minha mãe: “Pode ficar
tranqüila que seu filho vai ficar bom”. Depois de uma
semana, os exames mudaram e tudo começou a voltar ao normal.
Ninguém conseguia explicar o porquê. Foi um milagre
de Deus. Ele deve ter dito: “Fica aí embaixo que você
ainda tem que passar por muita coisa”. Minha mãe só
ficou sabendo que eu tinha tido leucemia seis meses depois.
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