Prejudicado
pelo rótulo de “maldito”, Jards Macalé
consegue,
aos poucos, constituir discografia regular, acentuando sua
faceta de (genial) intérprete. Dois anos depois de
CD em que recriou sucessos de Moreira da Silva (1902-2000),
Macalé
volta com Amor, Ordem & Progresso, disco em que
novamente o intérprete domina o compositor, em que
pesem quatro mú-
sicas de lavra própria. O título do disco
propõe a incorporação do amor ao lema
Ordem e Progresso da Bandeira Nacional – a partir
de sugestão da letra de “Positivismo”,
parceria de Noel Rosa e Orestes Barbosa incluída
no repertório. O próprio ál-
bum é uma exaltação ao afeto e ao amor.
Produzido por Moacyr Luz, sambista carioca, Macalé
transita
no CD entre as várias formas de samba, do samba-canção
pré-bossa nova (“Foi a Noite”, de Tom
Jobim) ao afro-samba
de Baden Powell & Vinicius de Moraes (“Consolação”,
com citação de “Canto de Ossanha”
). Calcados no violão de Ma-
calé, os climáticos arranjos primam pela delicadeza
e pelo intimismo bossa-novista que realça músicas
como “Roendo as Unhas”, de Paulinho da Viola.
O véu vermelho da capa remete à foto que ilustra
o primeiro disco de Macalé, editado em 1972 com músicas
como “Meu
Amor me Agarra & Geme & Treme & Chora &
Mata”, recriada
no novo CD. Mais de 30 anos depois, Macalé cresceu
como cantor, embora o compositor esteja adormecido.
No tempo da delicadeza
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