Baixinho,
raquítico, careca, com barba desgrenhada e amarelada
pelo cigarro. À primeira vista, Joe Gould não
passava de um mendigo, que dormia em albergues ou na rua,
sobrevivia de doações e desagradava muitas
pessoas. Mas Gould era formado em Harvard, imitava gaivotas
como ninguém e escrevia o maior livro do mundo, Uma
História Oral do Nosso Tempo. Suas anotações
consistiam de conversas que tinha ouvido e de cenas que
havia visto, pois ele dizia que a história era feita
da vida de pessoas comuns. Não demorou para chamar
a atenção do ótimo repórter
Joseph Mitchell, que escreveu um perfil sobre o boêmio
na revista The New Yorker.
A belíssima reportagem, intitulada “O Professor
Gaivota”, está no livro O Segredo de Joe
Gould (Companhia das Letras, 160 págs., R$ 27,50),
que também traz a matéria complementar que
Mitchell escreveu em 1964, sete anos após a morte
do personagem, em que revela totalmente seu enigma. Dono
de um texto elegante, preciso e saboroso, o repórter
não somente traça um perfil de uma pessoa
irresistível, como também o da Nova York da
década de 40. “O Segredo de Joe Gould”
foi a última reportagem publicada por Mitchell em
vida, e seu recolhimento até a morte em 1996 também
está cercado de mistério. Segredo
desvendado
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