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“Fiquei
com muita raiva da minha mãe. Achava
que ela fez meu pai se afastar de mim’’
Luiza Possi, sobre a mudança para São Paulo aos 4 anos |
Luiza
Possi cresceu ensaiando em garagens da casa de amigos e carregando
amplificadores em metrô. No ano passado, cantou com a mãe
Zizi Possi num programa de tevê e, no dia seguinte, passou
a ser assediada por gigantes do mercado fonográfico, que
entupiram de ligações o telefone da casa de sua mãe.
Luiza fechou com a Indie Records, de propriedade do músico
Líber Gadelha, pai da cantora, que não havia feito
um convite como as concorrentes. “Onde você aprendeu
tudo isso”, diria Líber, ao assistir, mais tarde, a
uma apresentação da filha e contratá-la, depois
de alertado por Zizi sobre o assédio das gravadoras.
Luiza
nunca cogitou pedir ajuda aos pais para entrar em estúdio
– gravou o CD Eu Sou Assim, que vendeu 46 mil cópias.
Ela não abria mão de vencer pelo talento, queria
ser descoberta, mesmo que pelo próprio pai, como aconte-
ce com a maioria dos artistas. “Se pedisse, meus pais iam
me gravar, mas eu estaria me amarrando. Conscientemente ou não,
teria a obrigação de satisfazê-los com meu traba-
lho. Eu não quero isso. Sou parecida com a minha mãe,
mas meu estilo é outro.”
Luiza,
de 18 anos, nasceu no Rio e foi criada na ponte- aérea. Aos
4, seus pais se separaram. Com 6, a mãe Zizi rompeu com a
gravadora (Pollygram), com o marido (Líber), deu adeus ao
Rio e, com a filha a tiracolo, mudou-se para São Paulo. “Fiquei
com muita raiva da minha mãe. Achava que ela fez meu pai
se afastar de mim.”
A
infância não foi fácil, Luiza sofria com a ausência
do pai e desafiava a autoridade da mãe. “Tinha dificuldade
em botar limites. Ficava uma semana fora trabalhando. Como dizer
‘não’, ao ver aquela carinha na volta para casa”,
diz Zizi. Para enganar os sentimentos, Luiza ligava uma vitrola
vermelha e chorava até o dia de embarcar para o Rio.
“Desde os 5 anos, pegava a ponte-aérea sozinha para
ver meu pai. Era horrível, carregava no pescoço um
car-
taz que dizia: ‘Menor desacompanhada’.”
Crescer
rápido era um sonho para ela, que almejava poder
de decisão. No colégio, logo teve noção
de que física e química não seriam cruciais
para a aptidão que já aflorava. “Cabulava todas
as aulas, engabelava a segurança e brigava com todos os professores”,
conta. Na pré-adolescência, a rebeldia era dizer para
a mãe que dormiria na casa de amigas e cair na balada –
hoje, ela comemora três anos de namoro com Nelsinho, filho
do jornalista Nelson Rubens. “Conquistei minha liberdade.
Conquistei, ela não me foi dada pela minha mãe. Aos
17 anos, falei: ‘Vou fazer uma tatuagem’. Não
perguntei: ‘Posso fazer uma tatuagem?’.”
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