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Com
a mulher Ana Cláudia e o filho
Thiago: “Sou trotskista”, diz ele |
O deputado
João Batista Araújo, mais conhecido como Babá,
49 anos, tinha duas opções de vida na juventude: seguir
a carreira militar ou se tornar um radical de esquerda. Para tristeza
do governo do Lula, seguiu a segunda. “Eu não fui,
eu sou trotskista até hoje”, avisa. Babá, apelido
que carrega desde a infância, pertence à Corrente Socialista
dos Trabalhadores, uma
ala do PT que tem ligações com o socialismo
internacional. Prega o rompimento com o FMI, acha
absurda a aliança do PT com o PL, abomina o pre-
sidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e car-
rega seus discursos com chavões anti-imperialistas.
Parece
tudo muito antigo, mas a verdade é que ao lado dos deputados
Luciana Genro e Lindberg Faria e da Senadora Heloísa Helena,
Babá, até então um anônimo no Congresso,
está despontando como uma liderança. Já nem
pode mais andar nas ruas sem ser reconhecido. “As pessoas
estão vindo falar comigo porque eu não me afastei
dos meus princípios, eles é que estão perdendo
a coerência”, critica, referindo-se à cúpula
de seu partido.
Seu
estilo ultra-combativo cria polêmica no Congresso. Entre os
parlamentares da oposição ele ganhou torcida, e entre
os governistas, virou motivo de preocupação. Mas ambos
são unânimes ao comentar sua figura exótica.
Especialmente por causa dos cabelos que chegam à cintura.
Poucos sabem, mas esse militante incorrigível é extremamente
vaidoso. Só usa xampu de própolis com mel de uma fábrica
paraense, seu Estado natal, e nunca deixa de passar cremes para
hidratá-los. Para compor o visual, há dois anos pôs
um brinquinho na orelha esquerda. “No começo me gozaram
muito, mas depois se acostumaram”, afirma.
Babá,
casado com Ana Cláudia e pai de Thiago, 2 anos, e de Bruna,
17, filha do primeiro casamento, não liga. Está acostumado
a chamar a atenção. Enquanto a maioria exibia longas
madeixas e desfilava de calça jeans desbotada nas assembléias
de estudantes das universidades, ele assistia às aulas de
engenharia mecânica na Universidade Federal do Pará
de terno, gravata e cabelos muito bem cortados. É que nesse
período era também Oficial de Justiça concursado
e bem remunerado. Tão logo se formou, fez concurso e foi
aprovado para ser tenente da Marinha no Rio de Janeiro. Só
não seguiu a carreira porque foi aceito na pós-graduação
do conceituado ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica,
onde defendeu tese sobre energia solar.
Mais
tarde, quando todos se formaram, cortaram os cabelos e se enfiaram
num terno e gravata, Babá abandonou o barbeiro, doou os ternos
e trocou a vida certinha que levava por megafones, greves e confusões
com a polícia. “Comecei a militar na assembléia
de professores da Universidade Federal do Pará, na greve
de 1979”, lembra.
Caçula
entre 15 irmãos, Babá, que já está cumprindo
seu segundo mandato de deputado federal, nasceu em Faro, uma pequena
cidade do Pará, mas foi criado em Parintins, no Amazonas,
a terra das festas do boi-bumbá. Cresceu em meio à
dança, às brincadeiras no rio e ao barco do pai que
passava de cidade em cidade trocando mercadorias. Aos 13 anos se
mudou com a família para Belém e foi o único
dos Araújo, que nunca precisou trabalhar até chegar
à universidade. “Eu fui muito mimado”, confessa.
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