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Klaus,
no Pelourinho, com crianças beneficiadas pelo Projeto
Salva Dor, que graças a suas contribuições
foi viabilizado. O empresário
vem três vezes por ano ao Brasil |
Klaus
Pavel tinha 14 anos quando descobriu o Brasil. Seu pai, Herbert Pavel,
empresário alemão que perdeu o patrimônio com
a Segunda Guerra Mundial, veio trabalhar em 1950 no império
dos Matarazzo. Na chegada a São Paulo, Klaus guardava viva
na memória a cena de abandonar às pressas a fazenda
onde morava para fugir de tropas soviéticas, que anexariam
a região à então Alemanha Oriental, integrada
ao bloco comunista no pós-guerra. “Saímos de casa
correndo, deixando tudo para trás”, conta ele. Cinco
anos bastaram para o jovem Klaus se apaixonar pelo Brasil. Morava
numa casa no Jardim América e estudava numa escola para filhos
de estrangeiros. Tempos depois, seu pai – então braço
direito do Conde Francisco Matarazzo –, separou-se da mãe
e voltou para a Alemanha, onde em 1961 tornou-se cônsul honorário
do Brasil e refez a vida como empresário. A mãe, Waltraud,
permaneceu em São Paulo. E aos 19 anos, Klaus também
retornou ao seu país para estudar engenharia.
Hoje,
aos 66 anos, industrial que fatura US$ 100 milhões por ano
– dono de fábricas de peças para automação
industrial na Alemanha, na Índia, na Suíça,
na Inglaterra e no Canadá –, Klaus Pavel sente-se recompensado
em agregar ao sentimento pelo país que o acolheu em tempos
difíceis um laço ainda mais forte: o da solidariedade.
Incentivado pela mulher, Gudrun Pavel, com quem é casado
há 30 anos, o empresário tornou-se um patrocinador
de projetos sociais e ambientais no País. Pai de três
filhos, Klaus nunca voltou a morar no Brasil, mas o vínculo
jamais foi perdido. Sua mãe casou-se novamente e só
deixou São Paulo rumo à Alemanha no ano passado, aos
82 anos. Em 1988, tal como o pai – que morreu em 1986 –
Klaus foi nomeado cônsul honorário do Brasil em Aachen,
na Alemanha, na fronteira com a Bélgica.
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Industrial
que fatura US$ 100 milhões, Klaus
(no detalhe, de terno escuro) é presidente
da hípica de Aachen, que realiza um dos
principais eventos hípicos do mundo |
O leque
de projetos que o empresário e sua mulher apóiam no
País é vasto. São entusiastas das ações
da Favela Monte Azul, em São Paulo, e colaboram com a Fundação
Ulna – Uma Luz no Amanhã, em Porto Alegre (para crianças
e idosos). Há oito anos, eles criaram a Fundação
Pavel, em Barão do Grajaú, no interior do Maranhão,
que promove educação complementar para mais de 100
crianças da região, cursos de apicultura e distribui
cesta básica e remédios. “Iva Engels, minha
secretária, é de lá e sua família se
propôs a tocar a fundação”, explica ele,
que destina um total de R$ 100 mil reais anualmente aos projetos.
A pequena e pobre Barão do Grajaú nunca mais foi a
mesma depois da Fundação Pavel. Em 1999, 2000 e 2001,
uma equipe de 12 cirurgiões plásticos e enfermeiros
da Interplast-Germany (organização não governamental
de cirurgiões plásticos) foi levada por Klaus à
região e conseguiu realizar um total de 600 cirurgias plásticas,
a maioria em crianças com graves problemas de lábio
leporino. “Eram filas enormes, mães chorando para que
seus filhos fossem operados. O posto de saúde era precário,
não foi possível atender todo mundo, mas foi emocionante
poder melhorar a vida de tanta gente”, conta o empresário,
que obteve autorização do governo maranhense para
viabilizar a iniciativa.
“Se
o homem
rico não faz alguma coisa contra a miséria,
ele vai sofrer com isso’’
Klaus Pavel |
Na
Bahia, onde Klaus ergueu há 15 anos uma aprazível
casa de veraneio fincada em 20 mil metros quadrados na Praia do
Forte – a uma hora de Salvador –, ele viabilizou financeiramente
o Projeto Salva Dor, criado em 1997 pela professora de alemão
Laís Manhaes Naka, que ensinou 22 anos na Rudolf Steiner,
escola de método Waldorf em São Paulo. O projeto dá
educação complementar a cerca de 50 crianças
carentes e serve alimentação a cerca de 200. “Só
lamento que não o tenha conhecido antes. É um homem
bom, preocupado com a questão social do País”,
diz Laís, que conheceu Klaus e Gudrun através da presidente
da Associação Comunitária Monte Azul, Ute Craemer.
Por intermédio de Klaus, o projeto ganhou nova sede projetada
gratuitamente pelo arquiteto Carl von Hauenschild, amigo do empresário
e que fez sua casa na Praia do Forte. Mais que doador de recursos,
Klaus é um captador de apoio financeiro para os projetos.
“A gente se sente bem fazendo alguma coisa
para ajudar. Talvez o estrangeiro veja a miséria por aqui
com outros olhos”, diz ele, em perfeito português. Mais
do que isso, Klaus gosta de apoiar bons projetos. Na Praia do Forte,
onde vai três vezes por ano, colabora com o Projeto Tamar
– programa do Ibama de proteção às tartarugas
marinhas. “Conheci essa região viajando de carro com
um amigo em 1953”, conta. O amigo era Klaus Peters, alemão
que nos 70 comprou o loteamento da Praia do Forte e é o dono
do Praia do Forte Eco Resort.
O
empresário, que herdou do pai uma fábrica de agulhas
para máquinas de costura industrial e expandiu os negócios
ao longo de mais de 30 anos de atividade, também é
presidente da Associação Hípica de Aachen-Laurensberger
– CHIO, que organiza um dos maiores eventos hípicos
do mundo. Com 300 mil espectadores, 400 cavalos e 150 cavaleiros,
o evento tem um orçamento anual de US$ 9 milhões.
Reúne empresários, políticos e famílias
reais. Nessas ocasiões, Klaus consegue captar recursos em
festas beneficentes. Também leva brinquedos de madeira, bolsas,
e artesanatos produzidos no Brasil, além de pedras brasileiras,
para vender em bazares. “Se o homem rico não faz alguma
coisa contra a miséria, vai sofrer com isso. Muitos que têm
dinheiro podem apoiar esses projetos. É uma mentalidade que
deve ser incorporada”, ensina Klaus.
Fundação
Pavel no Maranhão: (89)523.1920
Projeto Salva Dor na Bahia: (71)245-5009
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