Compositor,
cantor e escritor, Jorge Mautner gosta de dizer que é um
exemplo vivo da mistura de raças que tanto valoriza. Aos
61 anos, filho de judeus austríacos e criado por uma negra
ialorixá que o ninava em terreiros de umbanda, ele é
o primeiro a brincar com essa diversidade. “Meu pai dizia
que nasci todo errado”, diz, assumindo que o raciocínio
de Paulo Mautner, o pai já falecido, tem norteado sua vida.
“O ‘ser errado’ é fazer o que gosto, mesmo
sendo incompreendido”, diz. Entre sessões de Tai Chi
Chuan na praia do Leblon (RJ) e o tempo gasto tocando o violino
que ganhou de Gilberto Gil, Mautner lançou Eu Não
Peço Desculpa, em parceria com Caetano Veloso.
Com
fama de maldito desde o início da carreira, em 1958, o autor
de “Maracatu Atômico” agradece a chance de ser
reconhecido pelo grande público. “O Caetano deu a oportunidade
de me mostrar como intérprete”, diz. A amizade, iniciada
no exílio de ambos em Londres, em 1970, facilitou as gravações.
Para descontrair o ambiente e estimular a criatividade, Mautner
ironizava os costumes judaicos: “Contava piadas de rabinos.
Assim, fazia vir à tona um Caetano que ainda é genial”.
Ao
contrário do parceiro, pouco afeito a falar da idade, Mautner
se orgulha de chegar aos 61. A idade, aliás, não o
impediu de contrariar os médicos e, há um ano, passar
a fumar cinco cigarros por dia. “É pra mostrar que
ainda tenho saúde para esbanjar”, diz, casado desde
1968 com Ruth e pai de Amora, 27. “Eu o vi pela primeira vez
numa palestra em 1970 e fiquei impressionado com sua eloqüência.
Passei a participar de seus grupos de estudos e me considero um
discípulo do Kaos do Jorge”, diz Nelson Jacobina, maior
parceiro de Mautner nas composições.
Autor
de Mitologia do Kaos, o cantor já deu aulas voluntárias
de filosofia e literatura na rede pública, em São
Paulo, nos anos 80. “As crianças me chamavam de tio
e adoravam quando falava de Homero”, diz, referindo-se ao
autor grego. Voltar a lecionar está em seus planos. Por enquanto,
Mautner segue por aí, difundindo suas idéias. “Sou
o vingador de Auschwitz (campo de concentração
nazista na Polônia), proclamando a mistura das etnias
e o Brasil como a grande esperança.”
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