Televisão
A maior aposta
de Adriane Galisteu
A modelo estréia programa de auditório no
horário nobre da Rede TV!, fatura R$ 5 milhões por ano e promete
que não vai passar o réveillon de 2000 sozinha
Rodrigo Cardoso
Foto:
Edu Lopes
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Exausta depois
de uma sessão de fotos que a consumiu das cinco da manhã
às dez horas da noite, Adriane Galisteu sentou-se numa calçada
nas proximidades do aeroporto de Atenas, na Grécia, e respirou
fundo. Corria o ano de 1995 e ela sequer imaginava para qual direção
caminhava sua carreira. Logo que esvaziou os pulmões e sentiu-se
aliviada, ouviu o nome sendo sussurrado por uma aglomeração
de pessoas que caminhava em sua direção. Eram freiras
e padres brasileiros que, ao reconhecerem o rosto da conterrânea,
sucumbiram à tentação numa cena explícita
de tietagem: "Nossa Senhora, é a Galisteu!", espantaram-se.
"Que Deus a ajude em sua trajetória, minha filha."
Foi nesse momento em que sentiu boas vibrações, que
a então modelo, conhecida como a última namorada de
Ayrton Senna, percebeu que poderia ir mais longe.
Na segunda-feira
15, ela enfim deu início ao maior passo de sua carreira,
ao estrear em rede nacional à frente do programa Superpop,
da Rede TV!. Galisteu conquistou o posto de estrela maior da nova
emissora, ao receber a missão de comandar o horário
nobre, das oito às nove e meia da noite, de segunda a sábado.
"Ela é a grande aposta da emissora", diz Ric Ostrower,
30 anos, diretor do Superpop. "Já estava na hora de
mostrar a que vim. Não posso ser modelo e depender do corpo
eternamente", diz Galisteu. "É a minha grande virada."
Pela primeira
vez em sua curta trajetória de sucesso, Galisteu topa entrar
em um estúdio de gravação no início
do dia e sair altas horas da noite. Para gravar um programa de uma
hora e meia, ela passa o dobro do tempo no estúdio. Divide
o tempo entre cabeleireiro, maquiagem e a animação
da platéia. Na quarta-feira 17, às 3h30 da madrugada,
ela já havia gravado o segundo programa no mesmo dia, mas
correu do estúdio à sala do diretor, onde assistiu
à fita do programa marcado para ir ao ar no sábado
20. Discutiram se o placar, queimado durante o game show, quadro
do programa que dura 40 minutos, prejudicaria o conteúdo
na edição final. Às 5h, mais de 12 horas depois
de chegar à emissora, Adriane continuava trancada com sua
equipe e a direção da Rede TV!, numa reunião.
A maratona só terminou com o céu claro.
Para Adriane,
acostumada a uma maratona de sessões de fotos, desfiles,
eventos e filmes publicitários, esse esforço representa
deixar de ganhar dinheiro para investir num novo foco de sucesso.
Antes de assinar com a Rede TV!, ela engordava sua conta corrente
a cada vez que espocasse um flash sobre seu rosto, mesmo que fosse
pela simples presença numa festa - o que lhe rendia até
R$ 15 mil por uma saída. Os compromissos se acumularam a
ponto de, há dois meses, provocarem o fim do seu casamento
com o publicitário Roberto Justus. Agora, nos três
dias da semana em que passa gravando, Adriane abre mão de
pelo menos cinco eventos. "Minha vida sempre foi uma montanha
russa. Com o Superpop, terei a estabilidade que tanto precisava",
conta ela. No entanto, continuará à frente do programa
Quiz MTV e do Torpedo, na Rádio Jovem Pan, os quais apresenta
há dois anos.
Apesar da redução
nos compromissos, seu faturamento continua em alta. A marca Adriane
Galisteu está vinculada a jóias, calçados,
sopa, meia-calça, vídeo de ginástica, biquíni
e uma casa noturna. Hoje, ela movimenta R$ 420 mil por mês,
10 vezes mais do que faturava em meados de 1995. Também acaba
de fechar um contrato para posar nua pela terceira vez, que deve
envolver valores em torno de R$ 1 milhão, entre cachê
e percentual sobre as vendas. Seus planos não param por aí.
Ainda escreve um livro sobre beleza, uma espécie de manual
de auto-ajuda para adolescentes, que deverá ficar pronto
no início de 2000. E prepara, também, o lançamento
de sua boneca, pela Estrela.
Em 1996, ela
procurou o empresário e advogado de artistas Sérgio
D'Antino, com um plano na cabeça: "Ela me disse que
queria estar à frente de um programa, transmitido ao vivo
por uma tevê aberta, antes do ano 2000", lembra D'Antino.
"O Superpop é esse programa", confirma Adriane,
que deu um soco no ar quando soube que teve quatro pontos de audiência
média na terça-feira 16, superior ao H, apresentado
por Otaviano Costa no mesmo horário. Dentro de dois meses,
o programa será apresentado ao vivo. "É muito
bom dar 20 pontos em uma emissora grande. Mas dá mais prazer
sair do traço, tirar leite de pedra, e dar quatro pontos
aqui. Eu sou a recompensada, e não a emissora."
Sua ex-empresária
e ex-assessora de imprensa, Cristina Moreira, lembra de um episódio
que abriu os horizontes para a modelo. "Até o primeiro
aniversário da morte do Senna as pessoas encontravam a Dri
na rua e diziam: 'Olha, lá, a mulher do Ayrton!' Até
que um dia ouvimos: 'Olha a Adriane Galisteu! Qual maquiagem ela
está usando? Qual a marca da roupa dela?' Descobri que ela
era uma gostosona que venderia o que quisesse e poderia fazê-la
ficar milionária", diz Cristina. A partir desse episódio,
Adriane deixou de lado a divulgação do livro O Caminho
das Borboletas - Meus 405 dias com Ayrton - que vendeu 270 mil exemplares
e rendeu-lhe R$ 270 mil - e entrou de cabeça no mundo dos
negócios. No início, topava quase tudo. Em troca de
R$ 2.500, chegou a aparecer em público vestindo uma roupa
de uma butique do interior de São Paulo. Mas ela conta que
graças a essa mudança de estratégia conseguiu
recuperar a identidade. "Eu era a viúva, a oportunista,
a última namorada, menos a Adriane Galisteu", fala.
"Lembro que chorei de emoção quando, num semáforo
da avenida Paulista, um motorista parou ao lado e gritou: 'E aí,
Adriane?'"
Com uma imagem
forte e vendedora, Adriane começou a despertar o interesse
das grandes emissoras e aceitou um convite da CNT/Gazeta, em 1995,
para apresentar o semanal Ponto G. Seu contrato previa um ano de
programa, mas Adriane abandonou o barco dois meses depois, por falta
de repasse de verbas para a produção. Foi sua primeira
frustração na tevê. A novela Xica da Silva,
da Rede Manchete, foi o segundo ponto negativo de sua carreira.
Adriane foi chamada pelo diretor Walter Avancini para participar
de quatro capítulos, mas sua participação estendeu-se
por nove meses, contra sua vontade. "Um dia marcaram uma gravação
às três da manhã num rio poluído, em
Xerém, cheio de cobra d'água. Não tinha dublê.
Fiz as cenas aos prantos, com raiva de mim", afirma. "Me
fizeram muito mal. Vivia pedindo ao Avancini para matar minha personagem."
Para fazer o
sonho de quatro anos vingar, a apresentadora teve de encarar o estilo
mambembe de fazer televisão, adotado pela Rede TV!. Para
pôr no ar um canal novo em apenas quatro meses, a emissora
alugou um espaço de 1.500 metros quadrados de área,
onde antes funcionava a produtora do jornalista Goulart de Andrade,
na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. No local, existe
apenas um estúdio, onde são gravados três programas.
O cenário do Superpop é montado e desmontado toda
semana. Adriane chega a fazer piada com a situação
precária do estúdio, em frente a sua platéia.
"O Faustão demorou dez anos para conseguir um ar-condicionado.
Imagine eu, aqui na Rede TV!", disse, num intervalo de gravação.
Na
melhor fase da carreira, Adriane admite estar em dívida com
a vida pessoal. "Claro que não deixo de dar beijo na
boca e de fazer sexo por nada, mas não sei ficar sozinha",
diz. "Estou louca para arrumar um namorado, alguém que
entenda minha vida. E não vou passar o réveillon do
ano 2000 sozinha. Quando penso nisso, entro em pânico."
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