Revelação
Grelo Falante,
quando elas contam piadas
Cinco amigas fazem sucesso
com humor, lançam livro e estréiam como roteiristas na Rede Globo
Viviane Rosalem
Há 11
meses, as amigas e atrizes Claudia Valli, 36 anos, Claudia Ventura,
31, Suzana Abranches, 38, Lucília de Assis, 38, e Carmem
Frenzel, 31, fundaram um jornal de humor feminino. Batizaram de
O Grelo Falante, inspiradas no personagem Grilo Falante. Mal poderiam
pensar que o tablóide gratuito com tiragem de 10 mil exemplares,
distribuídos em livrarias, bancas e espaços culturais,
abriria portas para elas. O grupo lança este mês, pela
Objetiva, o livro Tapa de Humor não Dói: A Hora e
a Vez das Mulheres Gozarem e estréiam dia 21 de dezembro
como roteiristas do novo humorístico da Globo, Garotas de
Programa, sob a supervisão do grupo Casseta & Planeta.
"Somos morenas classudas e nosso objetivo é falar de
amor, sexo e revidar as piadas masculinas", explica Claudia
Valli, mentora do grupo, considerado o Casseta de saias.
No livro, elas
contam piadas e dão dicas em 165 páginas. "Também
traz a agenda da mulher 'in': insegura, infiel, independente, invejosa
e ingnorante", conta Isa Pessoa, 40 anos, diretora editorial
da Editora Objetiva. "Ninguém nunca havia falado com
tanta esperteza das fraquezas femininas, das roubadas e dos micos
que pagamos por causa dos homens." Isa se identificou com algumas
histórias narradas, como a do Carnaval frustrado em Búzios,
na Região dos Lagos do Rio, quando as moças enfrentam
percalços para chegar ao balneário e só então
descobrir que o homem desejado não foi.
"As festinhas
de humoristas não se resumirão a um bando de homens
babões enchendo a cara de uísque", diz Marcelo
Madureira, integrante do Casseta & Planeta. O grupo apresentou
as moças do Grelo a José Lavigne, diretor do humorístico
Garotas de Programa, que terá no elenco as atrizes Luana
Piovani, Drica Moraes e Marília Pera. "Faremos humor
sobre o comportamento das mulheres em relação aos
homens", diz Lavigne. As grelos falantes estão adorando
a experiência mas, de início, acharam que não
passava de brincadeira, pois a primeira reunião foi marcada
pela turma do Casseta no dia 1.º de abril.
Claudia Valli
CDF cuida dos textos e abriga a redação
Foto:
LEANDRO PIMENTEL
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Divorciada há
cinco anos e mãe de dois filhos, Nino, 10 anos, e Cora, 7,
a atriz, roteirista e diretora teatral Claudia Valli, 35, é
a redatora e roteirista do grupo. Foi dela a idéia de montar
O Grelo Falante em 98. Escrever sempre foi seu maior passatempo.
Até os 9 anos, era uma menina comportada e CDF. "Depois
fiquei bagunceira e debochada", lembra. Aos 18 anos, entrou
para faculdade de direção de teatro na UNI Rio e escreveu
seu primeiro infantil, Sonhe com os Anjos. Em seguida, especializou-se
em teatro adulto, escrevendo e dirigindo as comédias Tequila,
uma História Mexicana, A Esperança é a Última
a Sair da Festa e A Turba Rude e Bárbara, todas no Rio. É
no apartamento de Claudia que funciona a redação de
Grelo Falante e onde são produzidos os textos do Garotas
de Programa. Ela adora comida japonesa porque considera "uma
loucura" comer segurando dois pauzinhos. "Só não
escreve aí que eu torço pelo América",
brinca.
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LEANDRO PIMENTEL
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Lucília
de Assis
Ex-locutora
de rádio agora é lojista em Niterói
Quando era adolescente,
Lucília, hoje com 38 anos, vivia matando aula. "Já
ia para a escola com o biquíni na bolsa para correr para
a praia", lembra. Anos depois, formou-se em Jornalismo. Trabalhou
como locutora e programadora na extinta Rádio Fluminense,
hoje Jovem Pan, e na RPC, hoje FM O Dia. Também se formou
atriz no Tablado. Casada há 12 anos com o músico Alexandre
Dacosta, é mãe de Dora, 2 anos, e Tomás, 8
meses. Lucília atuou em Capitães de Areia e participou
da minissérie Armação Ilimitada, na Globo.
Nos anos 90, montou com o marido a dupla de cantores exóticos
Claimara Borges e Eurico Fidelis, para satirizar pessoas de sucesso.
Em 1992, lançou o CD Cascatas de Sucessos. Hoje ela é
dona da Escalafobética, uma loja em Niterói que vende
objetos, roupas e outras futilidades, como define. Lulu, como é
chamada, diz que tem algumas neuroses, mas prometeu se tratar "assim
que botar a mão na grana da venda do livro".
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LEANDRO PIMENTEL
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Carmen Frenzel
Ela quer uma vaga na Academia Brasileira de Letras
Quando criança,
Carmen, 31 anos, queria ser atriz. Mas os pais a proibiam e exigiam
que ela entrasse numa faculdade. Por gostar de cálculo, passou
para economia na Universidade Federal Fluminense. "Mas só
durou uma semana", diz. Tinha 18 anos e largou a faculdade
para fazer teatro. Os pais acabaram aceitando sua profissão.
"Só percebi quando começaram a chamar teatro
de trabalho", conta. Carmen destacou-se no espetáculo
infantil Lude na TV, de Dudu Sandroni, que lhe rendeu o prêmio
Mambembe de melhor atriz em 1996. Solteira, é professora
de teatro adulto e infantil no Teatro Ziembinski, na Tijuca. Adora
o que faz. "Só odeio jiló, polenguinho e mau
humor", ressalta. Depois que passou a escrever, sonha com uma
vaga na Academia Brasileira de Letras. E diz que o Grelo salvou
sua vida. "É o meu antídoto contra a suposta
esperteza masculina", explica.
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Suzana Abranches
Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo dá aula
de teatro
Casada há
cinco anos com o ator Gustavo Ottoni e mãe de Daniel, 2 anos,
Suzana Abranches tem 38 anos, mas diz que fotografa como se tivesse
23. É professora de teatro há seis anos no Colégio
Andrews, no Humaitá. Mas já trabalhou no Aeroporto
Internacional do Rio, fazendo o check in dos passageiros. Abandonou
a faculdade de teatro na UNI Rio e, aos 19 anos, foi morar sozinha.
"Sempre fui muito independente", conta. "Na infância,
era uma peste e, na adolescência, vivia me preocupando com
a questão social do País." Ao mesmo tempo, ressalta
que namorou bastante. "Gostava de experimentar", diz.
Estreou como atriz na peça Na Terra do Pau-Brasil, nem Tudo
o Caminhas Viu, ao lado do ator Ary Fontoura, mas seu maior sucesso
foi como a terceira Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo,
de 1983 a 1985. Na tevê, participou das novelas Tudo ou Nada,
Ana Raio e Zé Trovão e Zazá. "Sempre quis
dar um tom irônico aos meus personagens e por isso os diretores
viviam reclamando que aquilo ali era uma novela e não uma
comédia", conta.
Claudia Ventura
Mestre em teatro, trilíngüe e torcedora do Bangu
Foto:
LEANDRO PIMENTEL
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Casada há
dois anos com o engenheiro João Eduardo Zerbini, Claudia
Ventura, 30 anos, sempre se destacou entre os amigos e parentes
como a mais engraçada. "Meus irmãos mais velhos
são lindos e achei que não teria chance competindo
com eles", conta ela, que se achava o patinho feio da família.
No colégio Santo Inácio, onde estudou, foi chefe de
grêmio estudantil, representante de turma e vivia organizando
festas. Aos 17 anos, ela entrou para a faculdade de teatro na UNI
Rio, onde se formou. Ventura é um poço de sabedoria
e a única do grupo que tem mestrado. "Se bem que é
em teatro", debocha. No ano passado, foi indicada para o prêmio
Shell de melhor atriz com a peça A Serpente, de Nelson Rodrigues.
"Foi a glória, porque nunca tinha sido indicada nem
para síndica", diz. Paralelamente ao Grelo, ela também
atua na comédia Pum, uma Opereta Romântica, de Arthur
Azevedo. "Também sou trilíngüe", avisa.
"Sorte do meu marido." Ela não revela a ninguém
que torce pelo Bangu.
O que pensam as moças do Grelo Falante
Maridos:
"Mal necessário ou bem desnecessário? Tem vários
usos"
Absorvente
íntimo: "Ainda usamos toalhinhas! OB é uma
coisa muito íntima. Quer dizer 'Olha o Barbantinho!!!'"
Estilo da
Feiticeira: "Ela é loura, credo! Deve ter dente
cariado. Por isso usa aquele veuzinho"
Milene e
Ronaldinho: "Eles estão batendo um bolão:
enquanto ela fica embaixadinha, ele fica enciminha"
O melhor
amigo da mulher: "Um OB super, um celular, um batom, o
grelo, o dedo indicador... Já sei: uma amiga feia"
Parte do
corpo de que mais gostam: "O grelo"
Parte do
corpo que detestam: "O cérebro. Não, o baço"
Casseta &
Planeta: "Humm, que homens! São todos lindos, gostosos
e sempre querem colocar a cabecinha no grelo"
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